folha
Já se conhece a tática eleitoral escolhida por Lula: é simples na execução, direta no rumo ao objetivo e eficaz no resultado. E, qualidade muito conveniente nas atuais circunstâncias, tem custo zero para o PT e para Lula. Seu único problema: contraria várias leis. Como foi inaugurada oficialmente na sexta-feira, desde então lançou Lula na ilegalidade. Não só por atos proibidos, mas também por confissão.
A premissa de eleições consideradas democráticas é que os candidatos e partidos as disputem na medida de suas próprias possibilidades e condições, sujeitas às limitações legais. Presume-se que essa seja a preliminar da igualdade de oportunidades eleitorais. Daí que o uso de qualquer recurso oficial, direto ou indireto, cria um desequilíbrio que constitui transgressão à lei eleitoral. Não só. Atos que implicam gasto de dinheiro ou outro recurso público ferem também a legislação contra a improbidade.
As duas legislações foram transgredidas na sexta-feira, por atos e palavras, em uma região vizinha do Rio, com o nome sugestivo de Queimados. Entre inúmeras outras, Lula disse ali esta frase: "De vez em quando vocês vão ver pessoas dizendo que este ato de Queimados é campanha eleitoral". "Vocês", na frase, eram de cinco a quinze pessoas, conforme as estimativas menos ou mais interessadas, reunidas pelo PT e pelo PL do prefeito Rogério do Salão. Bandeiras, faixas, cartazes, os refrãos cantados deram o sentido do encontro de um palanque lotado e do povaréu à sua volta.
A pretexto de um convênio financeiro para construção de um hospital, há 15 anos abandonada no início, houve em Queimados um comício declaradamente eleitoral. O dinheiro liberado é de apenas R$ 1,5 milhão, não sendo o restante mais do que um projeto de gasto nem aprovado ainda pelo Congresso. Não havia, portanto, o que ser de fato celebrado.
De volta à frase do discurso exaltadíssimo de Lula, para dar-lhe o complemento que a explicou: "De vez em quando vocês vão ver pessoas dizendo que este ato de Queimados é campanha eleitoral. Se eu não fizesse, era campanha para eles. Se eu faço, eles dizem que é para mim. Entre fazer para eles e para mim, prefiro fazer para nós aqui".
A primeira pessoa a dizer que ali se fazia ato de campanha eleitoral foi, pois, o próprio Lula. "Se eu não fizesse" já é afirmação de que faz, o que Lula quis ver ainda mais explícito: "se eu faço", que não é "se eu fizesse", mas reconhecimento ativo e presente continuado. E conclui com a identificação de que o ato que ele preferiu "fazer para nós aqui" era de "campanha eleitoral". Lula, no entanto, viajou para Queimados na condição de presidente e, segundo a agenda oficial, para um ato de presidente e servido pelo aparato presidencial.
Queimados fica na Baixada Fluminense, o que dispensa de mencionar suas características econômicas e sociais. Apesar disso, o custo do comício custou-lhe, pelo cálculo de Rogério do Salão, o equivalente a 5% do que estaria liberado pelo governo federal para o projeto da obra incerta. O que saiu dos cofres federais não foi calculado, nem se espera que seja: vôo do AeroLula e seus confortos, custos preparatórios com equipe avançada, acompanhantes, salários e vencimentos, sem falar em um dia remunerado pelo governo mas sem trabalho da comitiva para o serviço público.
Na véspera, Lula desmentira as notícias de que decidiria em fevereiro, no máximo em março, se seria candidato ou não. Jantava com senadores do PMDB, ocasião em que lhes disse: "Até junho vou inaugurar, lançar, divulgar, fazer tudo o que tenho direito porque sou presidente até o fim do ano". E deu junho, limite de sua inscrição eleitoral, como o mês da decisão.
O que começou no jantar com os governistas do PMDB e se completou em Queimados, foi a explicitação da tática de Lula: sob o argumento de que é presidente, usar a máquina e outros recursos do Estado para fazer campanha durante seis meses, pelo Brasil todo, e ao final confrontar os ganhos eleitorais dessa campanha e as condições de seus competidores a 90 dias das urnas.
A tática é inteligente e desde o início insinua seus efeitos. Se a evidente ilegalidade em que lança o seu beneficiário trará, ou não, alguma das decorrências a que ilegalidades estão sujeitas, são outros muitos quinhentos. O poder é o Poder e o Brasil é o Brasil.
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
Arquivo do blog
-
▼
2006
(6085)
-
▼
janeiro
(530)
- Ladrão não mais', diz Fernando Henrique Cardoso
- Editorial de O GLOBO
- Editorial de O GLOBO
- Miriam Leitão Supersuperávit
- Luiz Garcia Sabe-se que ninguém sabe
- MERVAL PEREIRA (B)RICS
- LUÍS NASSIF O operador e as TVs abertas
- JANIO DE FREITAS O caixa três
- ELIANE CANTANHÊDE Fase de engorda
- CLÓVIS ROSSI Primitivo e bárbaro
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Lucia Hippolito na CBN:Campanha original
- Editorial de O Estado de S Paulo
- Editorial de O Estado de S Paulo
- Editorial de O Estado de S Paulo
- Fazendeiro JK Xico Graziano
- DORA KRAMER: CPI cita, mas não indicia
- AUGUSTO NUNES Conta tudo, Duda
- Editorial da Folha de S Paulo
- Sobre o liberalismo - MARCO MACIEL
- Editorial da Folha de S Paulo
- O alckmista- VINICIUS TORRES FREIRE
- Agendas e objetivos diferentes - LUIZ CARLOS BRES...
- Editorial da Folha de S Paulo
- Fernando Rodrigues - Os marqueteiros
- Clóvis Rossi - O declínio do império, segundo Soros
- Editorial de O Estado de S Paulo
- Mais jornalismo e menos marketing
- FHC, um apagador de incêndio?
- CARLOS ALBERTO SARDENBERG:Estado assistencial
- Lucia Hippolito na CBN:Banco do Brasil do novo século
- Lula, as oposições e o Jornal Nacional
- Merval Pereira Entre o populismo e o realismo
- FERREIRA GULLAR Arapongas
- ELIANE CANTANHÊDE Hoje, é assim
- As memórias casuais de FHC, para americano ler
- AUGUSTO NUNES Deputados celebram o Dia da Infâmia
- Miriam Leitão Aliança livre
- LUÍS NASSIF A indústria estéril da arbitragem
- JANIO DE FREITAS O vertical não cai de pé
- CLÓVIS ROSSI Hipocrisia
- Editorial da Folha de S Paulo
- MAILSON DA NÓBREGA: Banco del Sur
- DANIEL PIZA: O estadista
- Entrevista:Armínio Fraga: 'Crescer como China e Ín...
- ALBERTO TAMER: Carta aberta ao ministro Furlan
- Editorial de O Estado de S Paulo
- DORA KRAMER: O dilema dos cardeais
- ROBERTO TEIXEIRA, NAS PALAVRAS DE LULA
- Editorial de O Estado de S Paulo
- Editorial de O Estado de S Paulo
- VEJA A dupla conquista
- CAI O DESEMPREGO....OU A ESPERANÇA DE EMPREGO ?
- Petróleo: Brasil é auto-suficiente
- VEJAENTREVISTA Norman Gall
- MILLÔR
- Claudio de Moura Castro No país dos decibéis
- Tales Alvarenga Romaria de esquerda
- VEJA Diogo Mainardi Em guerra com o lulismo
- Jogo sem regras
- Roberto Pompeu de Toledo
- VEJA Com dinheiro do povo
- VEJA CPI Depoimento de Palocci foi pífio
- VEJA Garotinho mentiu sobre pesquisa que encomendou
- VEJA O novo marqueteiro de Lula também é investigado
- FERNANDO GABEIRA Lamentos de um morador de Ipanema
- Concorrência global, enfoque local GESNER OLIVEIRA
- Poupado em CPI, Palocci atende a pedido de ACM
- FERNANDO RODRIGUES Céu e inferno para Lula
- CLÓVIS ROSSI A tardia angústia da elite
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial de O Estado de S Paulo
- Editorial de O Estado de S Paulo
- ENTREVISTA:'Não há paz com o Hamas, não há paz sem...
- Variações sobre o livro e a internet
- DORA KRAMER DORA KRAMER: Serra cala, mas não cons...
- Editorial da Folha de S Paulo
- Miriam Leitão Enquanto isso
- Linchados na CPI SÉRGIO ROSA
- Eu, Bono e você REINALDO AZEVEDO
- Editorial de O GLOBO
- ZUENIR VENTURA Estação purgatório
- MERVAL PEREIRA O mundo plano
- A importância do livre comércio
- COISA BOA Claudio Haddad
- Luiz Garcia Horizontalizaram
- CLÓVIS ROSSI O Estado morreu, viva o Estado
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- Editorial da Folha de S Paulo
- DORA KRAMER: Fidalguia só não faz verão
- Miriam Leitão Palocci na CPI
- Luiz Garcia Horizontalizaram
- Que pensar da China? Washington Novaes
- O câncer da corrupção João Mellão Neto
- Lucia Hippolito na CBN:Conselho de Ética faz sua p...
- Merval Pereira Crescer ou crescer
- REELEIÇÃO por Denis Rosenfield
- ENTREVISTA:Ozires Silva "O governo quebra todo mundo"
-
▼
janeiro
(530)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA