"O relatório da PF sobre a imprensa, apesar de
grotesco, merece ser analisado por outro motivo:
ele mostra claramente quem foi o inspirador do
inquérito. Todos os jornalistas citados pisaram
no pé de Luiz Gushiken e seu bando. Eu pisei.
Um bocado"
Um relatório da PF me acusou de ser colaborador de Daniel Dantas. Quando li meu nome nas páginas policiais, pensei, tremulante e sem ar:
– Amy Winehouse! Eu sou a Amy Winehouse!
Imagens assustadoras passaram por minha mente. Eu, embriagado e algemado, na porta de uma delegacia. Eu, num bar, aos tapas e pontapés. Eu, de sutiã, vagando pelas ruas da cidade.
Depois pensei, ainda mais angustiado:
– Britney Spears! Eu sou a Britney Spears!
Me vi de cabeça raspada. Me vi fotografado, sem cuecas, descendo de um carro. Me vi perdendo a guarda de meus filhos.
A idéia de que sou um colaborador de Daniel Dantas é uma patetice. Basta ler os grampos da PF. Sabe o que há contra mim? Daniel Dantas e seus funcionários comentaram uma de minhas colunas e mandaram traduzir um documento que disponibilizei a todos os leitores na internet. Meu crime é ser lido.
O relatório da PF sobre a imprensa, apesar de seu caráter grotesco, merece ser analisado por outro motivo: ele mostra claramente quem foi o inspirador do inquérito, e qual era seu objetivo. De um jeito ou de outro, todos os jornalistas citados pisaram no pé de Luiz Gushiken e seu bando. Eu pisei. Um bocado. No comecinho de 2007, Luiz Gushiken até mandou a PF me investigar. Pisei no pé também de seus blogueiros de aluguel. E no do atual diretor da Abin, Paulo Lacerda. E no de seu antecessor no cargo, Mauro Marcelo. E no de Luiz Roberto Demarco, denunciando a montanha de dinheiro que ele ganhou como lobista da Telecom Italia. Aliás, desconfio que o próprio Demarco tenha ajudado a fabricar o relatório sobre a imprensa. É um acerto de contas com alguns de seus maiores desafetos, tanto profissionais quanto pessoais, como Guilherme Barros, da Folha de S.Paulo, cuja única culpa foi ter se casado com sua ex-mulher.
Por tudo isso, digo que o inquérito contra Daniel Dantas e Naji Nahas só pode ser interpretado da maneira mais elementar: foi a última cartada de Luiz Gushiken e seus palermas para tentar impedir a compra da Brasil Telecom pela Oi. Há recados para todos os que participaram do negócio, até mesmo para Lula, por meio dos grampos em Gilberto Carvalho. A compra da Brasil Telecom pela Oi é realmente escandalosa. Espero que Luiz Gushiken consiga afundá-la. Se dependesse apenas da PF, porém, os quadrilheiros sairiam impunes. Ainda bem que há juízes e procuradores para controlar todos os abusos. Eles podem separar direitinho o que é crime e o que não é.
Todo mundo aqui sabe que eu gosto de contar vantagem. É o que vou fazer agora. Quatro meses atrás, concluí um podcast para Veja.com da seguinte maneira:
"O plano da ala trotskista do PT, de Luiz Gushiken, era reestatizar a telefonia com dinheiro dos fundos de pensão e do BNDES. Como sempre acontece com os trotskistas, eles bobearam e acabaram com um picador de gelo enterrado no cocuruto. A Oi está abocanhando a Brasil Telecom, mas seu comando será entregue aos grandes financiadores de Lula e de seus filhos, em sociedade com Daniel Dantas. A ala trotskista do PT ainda pode tentar melar o jogo usando aquilo que lhe resta: um pedacinho da PF, outro pedacinho da Abin, outro pedacinho do Ministério Público. Para quem está do lado de fora, é uma farra acompanhar a guerra entre os companheiros petistas. O Brasil está completamente rendido. Agora só o PT pode destruir o PT".
Já posso tirar o sutiã?