Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 05, 2008

RUY CASTRO A morte do monstro

RIO DE JANEIRO - Morreu no dia 21 último, aos 82 anos, em Honolulu, o ator americano Ben Chapman. Não era famoso. Sua carreira resumiu-se a um filme, em que ele fazia o papel-título: "O Monstro da Lagoa Negra", de 1954.
Chapman passava o filme todo dentro da fantasia do monstro -uma roupa de borracha inteiriça coberta de escamas e algas, encimada por uma cabeça de peixe ou lagarto, com lábios grossos e olhos esbugalhados. Seu rosto não era visto em nenhum momento. Os olhos eram da máscara, não dele, e ele não tinha uma única fala no filme.
Além disso, era o monstro apenas em terra firme. Nas seqüências debaixo d'água, em que se vê o bicho nadando (às vezes, por quatro minutos sem cortes e sem fazer bolhas), o ator era um campeão de mergulho, Ricou Browning. Ou seja, dos 79 minutos do filme, somando-se suas aparições, Chapman ficou em cena por, no máximo, 15. Mas seu porte fez do monstro um dos mais elegantes do cinema.
Por algum motivo, "O Monstro da Lagoa Negra" ficou clássico. É o filme que Marilyn Monroe acabou de ver em "O Pecado Mora ao Lado" pouco antes de o vento do metrô levantar-lhe o vestido. Marilyn comenta que achou o monstro uma gracinha. E ele era mesmo: estava quieto no seu canto no fundo do rio havia 150 milhões de anos, e os homens é que foram perturbá-lo.
O filme teve duas continuações, de que Chapman não participou. Nem precisava. Pelos 54 anos seguintes, até outro dia, viveu de aparições pessoais em eventos ao redor de piscinas, assinando autógrafos e posando fantasiado para fotos. Seus 15 minutos de fama duraram uma vida inteira. Nem há registro de que tenha tido crises de personalidade. Assumiu-se como o monstro da Lagoa Negra e foi feliz para sempre. Deve haver uma mensagem aí, mas não sei qual é.

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