Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 09, 2007

FERNANDO RODRIGUES

Renan, a parte e o todo BRASÍLIA - É possível haver explicação formal sobre a origem do dinheiro de Renan Calheiros. Notas fiscais, recibos, cheques, saques em espécie e gado valorizado. Como se sabe, aqui é o Brasil.
Sobre o gado, um reparo. Escrevi segunda-feira sobre o tema. O presidente do Senado faturou R$ 1,92 milhão com a venda de "bovinos e bubalinos" de 2003 a 2006. O número declarado de bois vendidos nos quatro anos foi de 1.902.
Em resumo, um boi criado por Renan Calheiros rende, em média, R$ 1.009. Não é impossível obter tal preço. Mas devem ser animais realmente excepcionais. Opulentos e de carne inigualável. Tudo compatível com uma tradição até hoje desconhecida de Alagoas. Essa discussão, porém, só favorece ao atormentado presidente do Senado.
O debate sobre o "gado do Renan" pode se arrastar por semanas sem conclusão. É uma parte considerável do problema, não o seu todo.
Talvez pelo padrão rebaixado dos níveis éticos da política, outro aspecto da encrenca já evaporou. Trata-se de uma confissão de Renan Calheiros. O ocupante do quarto cargo na hierarquia da República, sentado em sua cadeira na Presidência do Senado, revelou ter utilizado os serviços de um amigo lobista para transportar dinheiro vivo.
Desculpou-se pelo fato de os pagamentos terem sido de caráter pessoal -a pensão para uma mulher com quem tivera uma filha. A pergunta é: pode um senador da República dar-se ao luxo de pedir tal auxílio a um lobista? Mesmo o dinheiro sendo de Renan Calheiros -algo não-comprovado-, a impropriedade da relação é gritante.
Há uma leniência tácita dos senadores a respeito. O caráter pessoal do Renangate é usado como atenuante. O viés é pela absolvição. A mensagem está pronta: no Senado, pedir a amigos lobistas que transportem dinheiro é normal e lícito.
Eles sabem as relações que têm.

Arquivo do blog