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Números não dizem tudo, especialmente quando tentam retratar o movimento econômico, onde a qualidade (boa ou ruim) tantas vezes sobrepuja a quantidade. Aqui vão algumas observações sobre as Contas Nacionais do primeiro trimestre deste ano:
Não dá para sustentar que os resultados são medíocres porque ainda será preciso absorver a metodologia que o IBGE passou a empregar para medir produção e renda. Mas um avanço de 0,8% no trimestre (sobre o anterior) parece consistente com as expectativas de um aumento do PIB, neste ano, de alguma coisa entre 4,5% e 4,8%.
A maior parte dos observadores apontava para um crescimento (sobre o trimestre anterior) mais alto, por volta de 1,1% ou 1,2%. O desempenho mais fraco tem um lado bom, que é o de esvaziar as apreensões dos mais conservadores. Aparentemente, a manutenção do atual ritmo de queda dos juros por mais duas ou três reuniões do Copom não colocará em risco o cumprimento da meta de inflação. A Ata a ser divulgada hoje pode ter indicações disso.
Boa notícia (sem ter sido surpresa) é a forte expansão de 6% do consumo das famílias (em relação ao primeiro trimestre de 2006), o que mostra o fortalecimento do mercado interno. Isso está relacionado com a queda dos juros, que estimulou as compras, e com a valorização do real, que aumentou o salário real.
Outro número positivo é a vitalidade do investimento, o item que os técnicos denominam Formação Bruta de Capital Fixo, que em 12 meses cresceu 7,2%, ainda mais do que o consumo. Como participação no PIB, é ainda baixo, de 17,2%. Mas é o 13º avanço seguido desse componente. Este resultado também ajuda a afastar o risco de inflação de demanda, que acontece quando a produção não dá conta do consumo.
Também notável é o avanço do setor de serviços (1,7% em relação com o trimestre anterior). O lado negativo é o comportamento da indústria (evolução de apenas 0,3%). Indicadores mais recentes dão conta de que no segundo trimestre o desempenho do setor já foi melhor. A conferir.
O balanço geral é positivo. Mostra que estamos em meio a uma expansão mais sólida e não a um surto (vôo de galinha). Mas a simples derrubada dos juros não garante nada. A consolidação do crescimento econômico exige mudanças mais profundas consubstanciadas nas reformas estruturais. Sem elas, o avanço da produção esbarrará ou nos custos excessivos, quando comparados com os da concorrência externa, ou na precariedade da infra-estrutura.