Carta ao Leitor da VEJA deste fim de semana:
"Os processos de apuração de desvios de conduta dos próceres de uma nação precisam resultar em algum aprendizado para a classe política, em benefício da sociedade. Sem esse saldo positivo, o que se tem são casos que geram mais calor do que luz. No caso atual envolvendo Renan Calheiros, presidente do Senado, corre-se o risco de que a exposição de suas perigosas ligações com um lobista de empreiteira e de seus negócios agropecuários obscuros termine sem uma apuração cabal dos fatos como quer o complacente relator do Conselho de Ética do Senado, senador Epitácio Cafeteira.
Os senhores senadores precisam estar cientes do fato de que ao varrerem para debaixo do tapete as suspeitas em torno do senador Calheiros estarão escrevendo um permissivo código de conduta ética para a vida pública brasileira.
Ficamos então combinados que pelo código Cafeteira todo senador ou deputado de agora em diante pode:
• Pagar contas de 100.000 reais usando dinheiro vivo sem declarar os gastos ao imposto de renda.
• Valer-se dos serviços de lobistas de empreiteiras para resolver questões pessoais de foro íntimo e que envolvam dinheiro.
• Apresentar emendas orçamentárias que beneficiem justamente a empreiteira do lobista-amigo-secretário-tesoureiro.
• Usar escritórios de empreiteiras como sua tesouraria pessoal.
• Usar apartamentos de lobistas para encontros amorosos.
• Ter lobistas como fiadores de suas despesas.
• Ter suas campanhas políticas financiadas por empreiteiros com interesses diretos em suas decisões de como gastar o dinheiro do povo.
• Apresentar emendas ao Orçamento que beneficiem empresas de lobista-amigo-secretário-tesoureiro.
• Vender bois com uso de recibos frios.
O filósofo grego Aristóteles em sua Ética a Nicômaco alertou para o fato de que as qualidades morais precisam ser praticadas até se tornarem um hábito. O código Cafeteira é a negação dessa verdade".