Dida Sampaio/AE |
Passageiros exaustos no aeroporto de Salvador: uma crise que já se arrasta há nove meses |
"É assim mesmo." "Não tem jeito." "Vai fazer o quê?" O sentimento de resignação que está por trás dessas três frases começa, perigosamente, a tomar conta dos milhões de brasileiros que dependem do transporte aéreo para passear e trabalhar. Sim, a esmagadora maioria dos brasileiros voa a serviço. Pode-se até compreender a resignação, pois já faz nove meses que a crise no setor se arrasta, com um número absurdo de atrasos e cancelamentos de vôos, sem que se descortine uma solução para ela. A aceitação do estado de caos nos aeroportos como um fato da vida precisa ser combatida por todos os cidadãos. Só a indignação, o inconformismo, o protesto podem apressar uma solução para o problema. Caso contrário, o caos aéreo entrará para a lista de sofrimentos nacionais crônicos e acabará tragando o que sobrou de modernidade e eficiência na economia nacional. Uma aviação pontual, segura e capilar é prioritária num país de dimensões continentais como o Brasil. Tão prioritária pelo fato de por aqui inexistir uma rede ferroviária digna de tal nome e grande parte da malha rodoviária ser, hoje, um atoleiro. Ferrovias e estradas foram morrendo ao longo dos anos justamente por terem sido vítimas do "É assim mesmo", do "Não tem jeito" e do "Vai fazer o quê?".
Não é assim, não. Tem jeito, sim. Há muito que fazer. As autoridades não podem mais tratar o assunto com leveza, para dizer o mínimo. Atualmente, elas nem se dignam mais dar explicações ou justificativas para a bagunça que transformou os aeroportos em câmaras de horror. O governo precisa empenhar-se para resolver de uma vez a questão. O primeiro passo para isso é reinstaurar a hierarquia militar entre os controladores de vôo. Está mais do que evidente que, por não terem suas reivindicações atendidas, como o aumento de salários e a desmilitarização, eles vêm conduzindo há meses uma gigantesca operação tartaruga. Uma reportagem desta edição de VEJA mostra como os sargentos controladores deixaram de obedecer aos oficiais encarregados de supervisioná-los. É um precedente perigoso sob todos os pontos de vista. Não é possível que um punhado de sabotadores seja capaz de paralisar um país. Se for, então tudo é possível.