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Na semana passada, o Senado dos Estados Unidos sancionou a nova Lei do Etanol (Energy Bill), que terá enorme impacto sobre o mercado mundial de bioenergia.
Ficou definido que os Estados Unidos tratarão de garantir em 2022 a oferta de 36 bilhões de galões (136,1 bilhões de litros) anuais de etanol (álcool) para contribuir na substituição de derivados de petróleo no transporte.
Em 2006, a produção mundial de etanol ultrapassou 13 bilhões de galões (50 bilhões de litros). Brasil e Estados Unidos produzem cerca de 4,5 bilhões de galões (17 bilhões de litros) por ano cada. Prover os 36 bilhões de galões em 2022 implica ampliar em oito vezes a oferta de 2006. A pergunta seguinte é saber de onde aparecerá tanto etanol.
Hoje quase todo o etanol produzido nos Estados Unidos provém do milho, cultura que, em 2005, recebeu US$ 9,4 bilhões em subsídios. A produção anual alcança 10,5 bilhões de bushels (266,7 milhões de toneladas). Se toda a produção de milho fosse canalizada para a produção de etanol, à proporção de 2,7 galões de etanol por bushel, os americanos conseguiriam produzir apenas 28,4 bilhões de galões de etanol. Ou seja, aos números de hoje, faltariam 7,6 bilhões de galões.
É provável que consigam aumentar a área plantada e também a produtividade do milho. Mas será indispensável que a maior parte da produção continue destinada à alimentação humana, à produção de rações e ao processamento industrial.
Para não trocar uma dependência por outra, os americanos imaginam que poderão produzir etanol a partir da celulose, cuja matéria-prima podem ser restos de madeira, palha de cereais e um capim nativo, o switch grass, que comparece aos discursos do presidente Bush sobre o assunto.
O problema é que ninguém sabe a partir de quando se poderá contar com a produção de etanol de celulose. As pesquisas estão sendo desenvolvidas tanto nos Estados Unidos como no Brasil, mas não prometem resultados antes de 5 a 7 anos.
Mesmo que essa tecnologia seja comercialmente aproveitável, será preciso garantir áreas agricultáveis. Artigo publicado no dia 27, na revista americana Slate, cita cálculos de John Deutch, ex-diretor da CIA e hoje professor de Química no Massachusetts Institute of Technology (MIT), de Boston, segundo os quais a produção de 22 bilhões de galões de etanol por ano a partir do switch grass exigiria área de 25 milhões de acres (100 mil km2), igual à superfície do Estado de Kentucky ou a 5% da área agricultável dos Estados Unidos.
A conclusão é a de que está aberto um enorme mercado para o etanol. Os Estados Unidos têm uma política protecionista para o produto. Cobram uma tarifa adicional de US$ 0,54 por galão de etanol importado do Brasil, o que acaba de ser prorrogado até 2010. Mas a virtual impossibilidade de garantir o suprimento total de 36 bilhões de galões anuais com produção própria torna inevitável a abertura às importações. E este é mais um enorme atrativo para o setor no Brasil.