Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 09, 2007

FERNANDO GABEIRA

Sai da lama, jacaré

LULA GOSTARIA de discutir o aquecimento global. Eu também, é o centro do meu trabalho. Lula gostaria de libertar os reféns das Farc. Eu também. Fomos duas vezes a Celso Amorim pedir por Ingrid Betancourt. E também por sua assessora, Clara Rojas. Ingrid está acorrentada pelos captores. Clara, possivelmente, foi violentada por um deles. Teve um filho chamado Emanuel, que vive entre os guerrilheiros. Ingrid foi candidata verde à Presidência da Colômbia e seu caso é tratado a nível de Estado na França, onde vive sua filha. Amorim sempre mostrou boa vontade e, agora, ela frutificou com a decisão de Lula de falar do tema no G8.
Seria interessante discutir também a Venezuela. Para mim, o fechamento é ameaça à democracia. A RCTV não foi fechada porque participou de um golpe. Outra emissora participou do golpe e não foi fechada. A outra sobreviveu simplesmente porque decidiu apoiar Chávez.
Infelizmente, esses temas não prosperam por aqui. Estamos no auge de uma crise. O sistema político precisa realizar uma operação, depois de tantas da PF, intitulada "Sai da Lama, Jacaré". Mas está paralisado. Não votamos nada sobre aquecimento global. A Câmara está sepultada pelas medidas provisória, o Senado, envolto num escândalo, tenta salvar o seu presidente. Lula consegue escapar dos jornalistas. Nós convivemos com eles.
Precisamos dar uma resposta, mas os escândalos estão cada vez mais freqüentes. Antes havia pelo menos um espaço para digeri-los, ainda que com tantas reservas. A corrupção no Brasil pode ser um constrangimento internacional. Previ isso há duas semanas.
Ela precisa ocupar o topo da agenda. Sem tratá-la adequadamente, perde-se força para atrair ajuda externa e manter a floresta de pé.
Sem reforma, o Congresso brasileiro reduz a repercussão de sua voz pela liberdade de imprensa na Venezuela. A avalanche de escândalos paralisa o sistema político, sempre a espera do próximo, dos últimos vazamentos. Mas o abismo deveria estar bem visível para todos. É preciso encará-lo.
Dizem os jornais que Lula não pôde aparecer ao lado do caminhão movido a biocombustível porque queria evitar a imprensa e perguntas sobre seu irmão. Deu para sentir como é quase impossível fazer política num sentido mais amplo.
Nas ruas, por mais que o tema seja outro, sempre se pergunta: e aquela roubalheira lá? Ou o sistema político enfrenta a questão ou os últimos a serem presos que fechem a porta. E desliguem a luz. A Terra agradece.


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