POUCOS sabem que o aquecimento global também tem conseqüências positivas. Uma delas e permitir a agricultura em altas latitudes. Diante do impacto distinto em diferentes áreas do planeta, os cientistas, entre outros, apontam os perigos regionais como importantes. Em certas áreas, como o semi-árido, pode surgir o deserto, em outras, podem desaparecer ecossistemas inteiros.
Aqui no Brasil, determinamos que apenas 20% das propriedades na Amazônia podem ser exploradas. No cerrado, esta cota é de 35%.
A medida conseguiu deter um pouco o desmatamento. Mas é questionada, porque 80% é um número cabalístico diante de uma região diversa. Daí a proposta de fazer zoneamento ecológico e econômico para precisar muito claramente o que se pode ou não se pode fazer.
Todas essas observações nos levam a reforçar uma tendência que já existe no Brasil, inspirada pelo geógrafo Milton Santos, que é a de colocar o território no centro das políticas públicas. Mesmo as cidades terão de ser delimitadas, claramente, para que se possa orientar o seu desenvolvimento sustentável.
O caso da bacia do Xingu é interessante. Os chineses superbombearam seus recursos hídricos, nas províncias do norte, e precisam de soja. Os países começam a plantar soja para supri-los. A tensão sobre nossa água, que vai junto com a soja, aumenta. O etanol também sobrecarrega nossa exportação de água, na base de quatro litros por litro de álcool. Precisamos de novas idéias, novos instrumentos.
O mais interessante deles é o Comitê de Bacia. Cobra-se pela água, e o dinheiro obtido é aplicado, integralmente, para proteger a bacia. É um instrumento democrático, envolve governos, usuários e também uma linha que parte do próprio território.
Todas essas idéias são discutidas por aqui, quase em surdina. O aquecimento pede inúmeras tarefas para adaptar o país, mas somos dependentes da conjuntura.
A cruel imagem de Simone de Beauvoir, sobre menstruação, talvez ajude a compreender a nós mesmos: é impossível sentir-se uma princesa encantada com uma toalhinha ensangüentada entre as pernas.
Nunca problemas tão complexos foram sufocados por um processo tão rastaqüera. E, por favor, não culpem a PF. Ela apenas trabalha.
Para que um dia as idéias possam trabalhar também. Pelo menos num dos diálogos gravados uma interlocutora exprime nossa angústia: Vavá, a coisa está feia, muito feia.
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