Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 19, 2007

Nunca fomos tão felizes Demóstenes Torres

Nunca fomos tão felizes

O brasileiro é de maioria cristã e seria natural que aceitasse o pedido de perdão da ministra do Turismo, Marta Suplicy. As desculpas vieram a tempo e até tentaram evitar o que seria o desastre político de um dia em que o País ganhava mais um plano extraordinário e revolucionário. Não surtiram efeito e o anedotário nacional foi enriquecido com expressão elucidativa. Mais uma vez podem os petistas culpar a imprensa, mas o fato é que as palavras da ministra são um retrato falado da concepção total do poder que o lulismo ostenta. O “relaxa e goza” é o brioche contemporâneo e que na próxima vez os jornalistas não tragam perguntas impertinentes em dia de celebração.


A ministra falou a voz do dono, que momentos antes declarara que o brasileiro precisa parar de falar mal do Brasil e a imprensa deixar de incendiar o País com o noticiário da violência. O vexame do sistema aéreo brasileiro é um problema de quem anda de avião, a infra-estrutura nacional um convite para o turismo e a explosão da criminalidade mero truque midiático para desestabilizar auspiciosa fase do governo. Em outras palavras, o lulismo quer dizer que está no auge do usufruto do poder, acima das antíteses e muito pouco interessado em se responsabilizar pelos dramas do cotidiano.


O lulismo experimenta o ápice da história e desde já se incumbiu de reescrevê-la ao sabor das pequenas vinganças. De que outra forma entender o despropósito de consagrar Carlos Lamarca com a patente de general? Logo o terrorista cuja carreira no Exército foi marcada pela deserção seguida do roubo de material bélico, enquanto na clandestinidade praticou assassinatos, fez a vez de justiceiro, comandou assaltos e seqüestro. Qual será a causa desse pessoal de miolo mole do Ministério da Justiça? A finalidade só pode ser a de espezinhar as Forças Armadas, uma vez que escolheram para libertador nacional um Marcola da luta contra o regime militar.


O ex-capitão Carlos Lamarca era um criminoso lombrosiano adornado da lenda de guerrilheiro impávido e genial, quando foi um militar medíocre, teórico de escassa sabedoria e bandido covarde, cujas habilidades eram a traição e a emboscada. Virou mito porque teve êxito nas ações de expropriação e de extorsão. Em rápida analogia, o seu comando pouco divergia dos métodos empregados hoje pelas Farc. A diferença é a natureza do delito. Lamarca tinha como principal atividade criminosa a prática do assalto à mão armada, enquanto a guerrilha colombiana vende cocaína e derivados.


Ao consagrar Lamarca, o lulismo nos faz olhar para cima e vê-los no auge, sem qualquer disposição em contrário, ainda que o ônus vitalício seja do contribuinte, justamente quem vai pagar o salário de general à família do guerrilheiro. Por intermédio de um ato administrativo, o lulismo altera a história para ter o sabor da provocação. Pelo conjunto da obra, transcende os próprios marcos históricos para ser o melhor das nossas vidas desde a proclamação da República. Não é mais o governo anterior a referência de supremacia do lulismo, mas aquele 15 de novembro de 1889 a data superada.


No ápice da crise do mensalão, houve momentos de dificuldade em que o lulismo lançou mão da modéstia ao se equiparar aos Anos JK e se reconhecer na grandeza estadista de Getúlio Vargas, que sem ter ido tão longe, se apresentava “pai dos pobres” e “apóstolo nacional.” Agora o lulismo é o máximo do Brasil republicano. Logo vai cumprir a profecia de que o sertão vai virar mar, superar o esplendor do reinado cafeeiro de Pedro II, mostrar vantagens competitivas em relação à corte de dom João VI, provar que teve mais resultados do que Pedro Álvares Cabral em matéria de descobrimento e dar lição de antropofagia nos povos pré-colombianos. Está tudo certo: a felicidade é mesmo uma arma quente.


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Nunca fomos tão felizes

O brasileiro é de maioria cristã e seria natural que aceitasse o pedido de perdão da ministra do Turismo, Marta Suplicy. As desculpas vieram a tempo e até tentaram evitar o que seria o desastre político de um dia em que o País ganhava mais um plano extraordinário e revolucionário. Não surtiram efeito e o anedotário nacional foi enriquecido com expressão elucidativa. Mais uma vez podem os petistas culpar a imprensa, mas o fato é que as palavras da ministra são um retrato falado da concepção total do poder que o lulismo ostenta. O “relaxa e goza” é o brioche contemporâneo e que na próxima vez os jornalistas não tragam perguntas impertinentes em dia de celebração.


A ministra falou a voz do dono, que momentos antes declarara que o brasileiro precisa parar de falar mal do Brasil e a imprensa deixar de incendiar o País com o noticiário da violência. O vexame do sistema aéreo brasileiro é um problema de quem anda de avião, a infra-estrutura nacional um convite para o turismo e a explosão da criminalidade mero truque midiático para desestabilizar auspiciosa fase do governo. Em outras palavras, o lulismo quer dizer que está no auge do usufruto do poder, acima das antíteses e muito pouco interessado em se responsabilizar pelos dramas do cotidiano.


O lulismo experimenta o ápice da história e desde já se incumbiu de reescrevê-la ao sabor das pequenas vinganças. De que outra forma entender o despropósito de consagrar Carlos Lamarca com a patente de general? Logo o terrorista cuja carreira no Exército foi marcada pela deserção seguida do roubo de material bélico, enquanto na clandestinidade praticou assassinatos, fez a vez de justiceiro, comandou assaltos e seqüestro. Qual será a causa desse pessoal de miolo mole do Ministério da Justiça? A finalidade só pode ser a de espezinhar as Forças Armadas, uma vez que escolheram para libertador nacional um Marcola da luta contra o regime militar.


O ex-capitão Carlos Lamarca era um criminoso lombrosiano adornado da lenda de guerrilheiro impávido e genial, quando foi um militar medíocre, teórico de escassa sabedoria e bandido covarde, cujas habilidades eram a traição e a emboscada. Virou mito porque teve êxito nas ações de expropriação e de extorsão. Em rápida analogia, o seu comando pouco divergia dos métodos empregados hoje pelas Farc. A diferença é a natureza do delito. Lamarca tinha como principal atividade criminosa a prática do assalto à mão armada, enquanto a guerrilha colombiana vende cocaína e derivados.


Ao consagrar Lamarca, o lulismo nos faz olhar para cima e vê-los no auge, sem qualquer disposição em contrário, ainda que o ônus vitalício seja do contribuinte, justamente quem vai pagar o salário de general à família do guerrilheiro. Por intermédio de um ato administrativo, o lulismo altera a história para ter o sabor da provocação. Pelo conjunto da obra, transcende os próprios marcos históricos para ser o melhor das nossas vidas desde a proclamação da República. Não é mais o governo anterior a referência de supremacia do lulismo, mas aquele 15 de novembro de 1889 a data superada.


No ápice da crise do mensalão, houve momentos de dificuldade em que o lulismo lançou mão da modéstia ao se equiparar aos Anos JK e se reconhecer na grandeza estadista de Getúlio Vargas, que sem ter ido tão longe, se apresentava “pai dos pobres” e “apóstolo nacional.” Agora o lulismo é o máximo do Brasil republicano. Logo vai cumprir a profecia de que o sertão vai virar mar, superar o esplendor do reinado cafeeiro de Pedro II, mostrar vantagens competitivas em relação à corte de dom João VI, provar que teve mais resultados do que Pedro Álvares Cabral em matéria de descobrimento e dar lição de antropofagia nos povos pré-colombianos. Está tudo certo: a felicidade é mesmo uma arma quente.


Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)

é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)

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