Com sete dias de intervalo, o presidente Lula teve duas reações distintas ao envolvimento do seu irmão mais velho, Genival Inácio, o Vavá, com o batoteiro Nilton Cezar Servo, preso pela Polícia Federal (PF) sob a acusação de chefiar a máfia dos caça-níqueis baseada em Mato Grosso do Sul. Da primeira vez, na terça-feira da semana passada, em Nova Délhi, Lula enfrentou com elegância e propriedade a constrangedora situação em que foi posto ao se tornar público que a PF vasculhara, com autorização judicial, a casa de Vavá em São Bernardo do Campo. Pior, soube-se ainda que os federais haviam pedido a decretação da sua prisão preventiva, mas não foram atendidos - diferentemente do que ocorreu no caso de Dario Morelli Filho, o compadre do presidente apontado como sócio de Servo. (Ambos já foram soltos.)
Lula fez questão de separar parentesco e função pública. Falando como irmão, disse “não acreditar mesmo, de verdade” nos malfeitos atribuídos a Vavá. Falando como presidente, como deixou claro, disse que “se a Polícia Federal tinha uma autorização judicial e o nome dele aparecia, paciência”. Instado anteontem a se manifestar de novo sobre o caso - o que se recusara a fazer na Alemanha, depois da visita à Índia, dizendo que só trataria disso no Brasil -, ele foi menos claro. Revivendo o costume de recorrer a metáforas para lidar com situações embaraçosas, enveredou pela ictiologia ao comparar o irmão a um lambari apanhado em meio a um “cardume de pintados”, que apenas teria ganho notoriedade por ser um “lambari especial”, dada a relação de parentesco entre eles. E emendou: “Vavá está mais para ingênuo do que para lobista.”
De fato, do que transpirou das investigações da Polícia Federal, Genival Inácio, embora seja uma espécie de “paizão”, no dizer de Lula, para alguns ou todos os 15 irmãos e meios-irmãos Da Silva, aparece como um peixe pequeno perto dos principais citados. Além disso, as gravações de suas conversas revelam uma figura patética, de dar dó, como ao pedir “2 paus” para o tubarão Servo. Mas o seu jeito simplório, mencionado inicialmente pelo próprio advogado para defendê-lo da acusação de lobista, desqualificando-o, é apenas um lado da moeda. Ou por ser demasiado ingênuo ou por não o ser tanto assim, ele se movimentava o suficiente “para ser usado”, como a PF ouviu o capo dizer num telefonema. “É uma pessoa que você tem de direcionar”, Servo instruiu o seu interlocutor, prognosticando de todo modo que, aos 67 anos, Vavá “tem futuro”.
Tosco, trapalhão ou promissor, pouco importa. À polícia, ele afirmou que fazia “intermediações para ajudar as pessoas” - no caso, um empreiteiro e um pecuarista grampeados -, mas sem receber nada por isso. Já o empresário Nilton Servo afirma, nas gravações, que calcula ter pago R$ 14 ou R$ 15 mil a Vavá. O nervo da questão é que Lula sabia que o mano era uma dor de cabeça, que poderia se manifestar quando menos esperasse, e tratou de preveni-la. Pena que, na entrevista de anteontem, tenha apelado para a enrolação, o que se guardara de fazer em Nova Délhi. Não podendo negar que outro irmão, o Frei Chico, disse a Vavá, em telefonema gravado, que Lula queria falar com ele por causa de uma “bronca” - aparentemente, uma obscura tentativa de levar alguém a um Ministério -, o presidente tentou tirar o corpo, comentando que “eles são irmãos e têm de conversar”.
Para mal dos pecados, na mesma terça-feira se divulgou que, em 23 de maio, passados três dias da intimação repassada por Chico, ou por um certo “Roberto”, como se identificou, os gravadores da PF registraram chamado em que uma anônima voz feminina exortou Vavá a ir logo a Lula porque “a coisa está muito feia”. Em dado momento, Vavá confirma que o outro “tá querendo falar comigo”. Isso significa que antes de desencadeada a Operação Xeque-Mate, em 6 de dezembro passado, Lula tinha motivos para tirar o irmão lambari das águas turvas. Por saber (ou temer) que a PF estava na sua escuta? Ele deixou escapar que “só por ser meu irmão, o Vavá deveria ter tido mais responsabilidade”. No quê, exatamente? Decerto Lula não fez vista grossa às bisonhas traficâncias do irmão, muito menos foi conivente com elas. Entrou na história como Pilatos no Credo. Por que, então, não jogar limpo com o País ?
Entrevista:O Estado inteligente
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