Apesar de estar crescendo, a taxa de investimento é tão baixa que não podemos falar em crescimento sustentado
NÃO HÁ DÚVIDAS de que o quadro externo favorável trouxe recuperação e ligeira aceleração no crescimento econômico desde 2003. O último ciclo da economia brasileira se diferencia dos anteriores, pois, após a recuperação iniciada em meados de 2003 e forte expansão em 2004, quando o crescimento foi de 5,7%, no último trimestre desse ano começa uma contração da taxa de crescimento. A novidade foi a interrupção em 2005, com crescimento do PIB de 2,9%, patamar superior comparado a ciclos anteriores, para em seguida alcançar 3,7% em 2006 e 4,3% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo trimestre de 2006. Será que a economia brasileira está num patamar ligeiramente superior de crescimento? Será que caminhamos para um crescimento sustentado?
Em relação à primeira questão, não há dúvidas de que o patamar de crescimento da economia é hoje superior ao do passado recente. Se o quadro externo atual não sofrer mudanças, podemos crescer acima de 4% ao ano por mais dois a três anos. Basta lembrar que o choque positivo que sofremos com a alta dos preços das nossas exportações gerou ganho que representa pelo menos 40% do saldo comercial, hoje acima de US$ 45 bilhões, e a enorme liquidez internacional vem pressionando fortemente para baixo a taxa de juros do mercado, apesar da insistência do Banco Central em mantê-la elevada. Internamente, o governo Lula mudou a política de crédito e, ainda que timidamente, tomou algumas medidas favorecendo a indústria.
A segunda questão é mais complexa. Nos estudos recentes sobre o crescimento sustentado, esse fenômeno é definido como os casos nos quais a renda per capita cresce pelo menos 3,5% ao ano durante sete anos e, subseqüentemente, pelo menos 3% ao ano, dobrando a renda per capita num período de 20 a 35 anos. Podemos falar em crescimento sustentado quando a economia brasileira atingir patamar de crescimento do PIB de 5% ou mais ao ano nos próximos anos e se essa taxa for sustentada por duas décadas.
A característica central dos casos de aceleração e sustentação do crescimento é a expansão das exportações, particularmente de manufaturados, ampliando fortemente a abertura da economia. Nesses casos, a aceleração do crescimento é seguida de reformas institucionais. Infelizmente, no caso brasileiro tivemos forte aumento nas exportações desde 2002, mas esse processo vem sendo abortado pela apreciação cambial. Essa é apontada como um dos maiores riscos que abortam o crescimento sustentado, ao lado de outras variáveis que estão a ela relacionadas, como volatilidade externa (termos de troca), crises cambiais e inflação. Na realidade, tudo indica que a capacidade de evitar a apreciação cambial é chave na sustentação do crescimento, pois significa que a sociedade é capaz de não desperdiçar os períodos de bonança externa, ampliando as exportações e a taxa de investimento, em vez de simplesmente consumir os ganhos em termos de troca como estamos fazendo neste momento. O investimento vem recuperando terreno no Brasil, mas a taxa ainda é tão baixa -16,8% do PIB em 2006- que não podemos falar em crescimento sustentado.
YOSHIAKI NAKANO, 62, diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV, foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).