Reconhecida pelo dente Identificada a múmia de Hatshepsut, a rainha egípcia que se proclamou faraó Fotos AFP | Hatshepsut: a múmia estava numa tumba modesta e sem luxo | A rainha Hatshepsut, que governou o Egito por mais de vinte anos no século XV a.C., mandou construir um esplêndido templo funerário para abrigar seus restos mortais mumificados e os de sua família. Erguido no Vale dos Reis, onde hoje fica a cidade de Luxor, o templo foi descoberto em 1903, mas, para a frustração dos arqueólogos, a múmia da rainha não repousava na tumba reservada a ela. Durante mais de um século, permaneceu o mistério: onde estará a múmia de Hatshepsut? Na semana passada, um grupo de cientistas liderados pelo arqueólogo egípcio Zahi Hawass anunciou ter desvendado a charada. Uma das seis múmias que vinham sendo estudadas pela equipe foi identificada como a da rainha. Ao realizarem uma tomografia computadorizada de uma caixa que se encontrava no templo, na qual estava escrito o nome da monarca, os cientistas descobriram em seu interior um fígado mumificado e um dente. Aberta a caixa, descobriu-se que o dente se ajustava perfeitamente à arcada dentária de uma das múmias de quem não se conhecia a identidade. Exames primários de DNA sugerem um parentesco entre a mulher mumificada e Ahmose Nefertari, matriarca da 18ª dinastia egípcia e avó de Hatshepsut. Descobriu-se também que a rainha era obesa, diabética e morreu de câncer nos ossos. | Efígie da rainha: ela era obesa, diabética e morreu de câncer nos ossos | Os cientistas avaliam que, caso os estudos posteriores confirmem a identificação da múmia de Hatshepsut, se estará diante do mais importante feito da arqueologia egípcia desde a descoberta da tumba de Tutankhamon, o faraó-menino, em 1922. Hatshepsut foi a única soberana egípcia a se proclamar faraó, um título outorgado na época apenas aos reis. Seu reinado foi uma época de pujança. A riqueza acumulada foi convertida em campanhas militares que ampliaram o domínio do Egito até onde fica hoje o Sudão. Não é surpresa que seus restos mortais tenham sido achados numa tumba modesta do templo, e não naquela enfeitada especialmente para recebê-la. No Egito antigo, as múmias reais freqüentemente eram retiradas das tumbas e escondidas para evitar a ação de saqueadores. No percurso, as identificações de muitas delas se perdiam. Além disso, assim que assumiu o trono, o sucessor de Hatshepsut, seu enteado Tutmés III, tratou de destruir as marcas deixadas pela madrasta em seu reinado. Estátuas e monumentos dedicados a ela foram destruídos e seu nome foi riscado de muitos registros históricos. É possível que a múmia da rainha tenha sido ocultada para abrigá-la da ira do novo rei. A explicação mais provável para a atitude de Tutmés III é que ele tenha tentado apagar da história egípcia o hiato feminino que representou o reinado de Hatshepsut na linhagem masculina dos Tutmés. Para alguns historiadores, o novo rei teria sido movido também por vingança. Na ordem da sucessão real, Tutmés III deveria ter assumido como faraó, e não Hatshepsut, mas ele era muito criança à época. Crescido o príncipe, a rainha negou-se a lhe entregar o trono. |