LISBOA - Vou zapeando distraído na TV até cair na Al Jazeera (em inglês). Mostra cenas de destruição. Penso: outra vez o Oriente Médio em chamas.
Depois, presto atenção e descubro que a TV árabe está mostrando o Rio de Janeiro que o repórter Luiz Fernando Vianna descreveu assim nesta Folha ontem:
"Marcas de tiros nas paredes, casas e automóveis destruídos, centenas de cápsulas de balas espalhadas e muito sangue. Moradores da favela da Grota, onde se concentrou a operação policial no complexo do Alemão, fotografaram ontem os estragos da véspera".
Não parece uma descrição do Iraque, do Líbano, do confronto entre palestinos em Gaza?
O jornal português "Público" reforça e dramatiza a comparação, em texto de Nuno Amaral, do Rio de Janeiro. Subtítulo: "Entre 2002 e 2006, foram assassinados no Oriente Médio 729 menores. No mesmo período, foram assassinados no Rio de Janeiro 1.857 jovens.
É a guerra".
A comparação se baseia, explica o jornalista, em estudo da Universidade Harvard.
É, de fato, "a guerra". Não adianta o presidente Lula reclamar que os jornais só publicam notícias ruins ou dizer que brasileiro gosta de falar mal do Brasil.
Os fatos é que falam mal do país.
Seria mais proveitoso que, em vez de resmungar, Lula jogasse o governo na guerra da segurança pública -e não apenas no Rio. Mas é pedir demais. No Brasil, guerra só se dá nas ruas. Nos gabinetes reina sempre o deixa-como-está-para-ver-como-fica.
A frase com que o cândido e bom senador Eduardo Suplicy encerrou seu artigo de ontem nesta Folha é, a propósito, todo um compêndio sobre a inação tropical: "No Brasil, já demos um grande passo nessa direção ao aprovar a lei que institui a renda básica de cidadania. Só falta implementá-la". Só.
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