Opinião | |||||||||||||
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A nalisar a economia, ou os rumos dela, não é muito diferente de guiar numa estrada de montanha pela primeira vez. A estrada pode ser boa; a pavimentação, de primeira; o carro, novo; ou seja, tudo bem para uma viagem tranqüila. Mas é preciso muita atenção porque não se sabe o que há depois da próxima curva. À noite, então, a coisa piora muito, principalmente se os faróis estão mal regulados. Os motoristas das economias nacionais, digamos, os ministros das finanças dos governos, no Brasil e no mundo, estão nessa altura dos acontecimentos mais ou menos na mesma situação: a condução vai indo bem obrigado, mas, como não dá para enxergar depois das curvas - ou muito longe, no caso -, é sempre recomendado pensar nos perigos que podem surgir. A professora Eliana Cardoso, na sua coluna do jornal Valor de quinta-feira, chamava, muito apropriadamente, de 'momento mágico' o que a economia brasileira está vivendo no momento e a do mundo também. Aliás, a primeira, muito ajudada pela segunda. Num gráfico montado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e exibido por ela, era fácil ver que a economia mundial tem mantido, nos último seis anos, crescimento bem superior à média verificada nos 22 anos anteriores. Isso explica, é claro, os sinais de prosperidade visíveis um pouco por toda parte nos vários continentes: das pessoas, das famílias, das empresas, etc. E cria pelo menos duas indagações importantes. A primeira, mais imediata, é até quando dura isso ou quando virá a próxima crise da economia mundial; a segunda, de mais longo prazo, mas mais importante até para o futuro da espécie humana, é se o planeta terá recursos físicos suficientes para agüentar o desbaste resultante do 'momento mágico', caso ele seja bem mais do que um momento. Alguns dos perigos que os economistas tentam adivinhar para além das próximas curvas nessa estrada da bonança atual já andam sendo alinhavados nas suas colunas e artigos. Um deles, muito mencionado, é o dos remelexos da China - a política cambial e de juros do governo chinês, bem como suas atitudes em relação aos ingressos de capital estrangeiro ou sobre o que fazer com suas monumentais reservas - seguidos e analisados, pelos economistas, com a atenção e a concentração de entomólogos ao microscópio. A preocupação com isso já se refletiu na política do FMI em relação aos países membros. Numa reunião em Montreal, no Canadá, seu diretor-gerente, Rodrigo de Rato, informou que o board dos governadores da instituição decidiu averiguar os efeitos, para a economia mundial, de políticas que mantenham artificialmente baixo o valor da moeda em países com grandes reservas de divisas - o que se traduz claramente em avaliar 'que perturbações a China pode causar no mundo com sua política de câmbio'. E mais, o FMI passará a desestimular e a condenar políticas econômicas nacionais que tenham potencial de causar perturbações econômicas internacionais. É claro que isso não terá a menor influência nas políticas de governos que não precisem recorrer aos préstimos do FMI, como é o caso da China, mas terá influência nas avaliações e recomendações sobre o 'risco país' feitas pelas agências internacionais. Outro perigo que também pode estar depois da curva deste 'momento mágico' da economia mundial é o dos juros americanos: vão subir, vão cair, vão se manter? O Fed e o seu motorista, Ben Bernanke, é que estão com a
A confirmação, na semana passada, do fracasso da reunião do G-4 para um acordo que desenrolasse o andamento da famosa Rodada Doha, embora já fosse esperado, criou mais uma curva na rodovia ampla e plana da economia mundial e uma incerteza sobre o que pode estar além dela. Esse fato obriga os economistas com uma visão mais estratégica a perguntarem se o mundo vai ser capaz, ou não, de criar um mecanismo justo para o desenvolvimento harmonioso e proveitoso do comércio - hoje tido como a principal alavanca do crescimento de inúmeros países. Muitos foram os comentários de que o Brasil perdeu tempo se guiando pela perspectiva de afirmação da Rodada Doha, enquanto outros emergentes aproveitavam qualquer oportunidade para firmar acordos bilaterais proveitosos. Deixando de lado, porém, o julgamento sobre a estratégia diplomática-comercial do governo brasileiro, o fato é que aquele fracasso da reunião do G-4 e sua conseqüência, o provável fracasso da própria Rodada Doha, criam que tipo de perspectiva? Um comércio internacional baseado em miríades de acordos bilaterais ou, no máximo, plurilaterais, inspirados por interesses imediatistas dos parceiros envolvidos? Não nos parece que seja isso o desejável para um quadro de melhoria e aperfeiçoamento das relações internacionais, pois o que pode nos oferecer é um cenário já vivido antes de duas guerras mundiais e antes da criação do mercado comum europeu: um cenário de desordem comercial, onde, como se sabe, acaba prevalecendo a lei do mais forte e não a do bom senso. Eis aí, portanto, um perigo de derrapagem para o comboio do comércio mundial. E que pode afetar o Brasil. Primeiro porque a bonança interna tem tido muito que ver com o bom momento externo. Segundo porque não tendo acreditado em acordos bilaterais corremos agora o risco de somente encontrar brechas negligenciadas pelos concorrentes que partiram atrás delas antes de nós. *Marco Antonio Rocha é jornalista. E-mail: marcoantonio. rocha@grupoestado.com.br |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, junho 26, 2007
Tentando enxergar depois da curva
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