Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, maio 02, 2007

ELIANE CANTANHÊDE Lula, aqui e lá


Esta é minha última coluna antes de entrar em férias. Deixo para você, leitor, as críticas de Fidel ao biocombustível, as investidas de Chávez contra as refinarias brasileiras e o clima de guerra separatista na Bolívia, com reflexos nas negociações Morales-Lula em torno do gás.

Lula está conseguindo um leque de apoios internos invejável, que vão desde a esquerda (incomodada, mas sem alternativa) até a direita (oportunista o suficiente para aderir a qualquer governo). Mas ele pode ter muita dor de cabeça na área externa.

O clima do continente está esquentando, e o calor não é apenas verbal.

Ao contrário, desta vez vem piorado pela disputa em torno do petróleo da Venezuela, do gás boliviano e do programa do álcool combustível do Brasil, em aliança com os EUA de Bush.

Néstor Kirchner tem andado quieto, sem pender para um lado nem para outro na questão da energia. Mas, se olharmos os movimentos políticos dele desde a posse, são muito mais pró-Chávez do que pró-Lula. Pró-EUA com certeza é que não são.

Tabaré Vazquez tenta se equilibrar entre Brasil e EUA no Uruguai, Rafael Correa anda tendo muito trabalho dentro do próprio Equador, e o Paraguai depende excessivamente do Brasil para poder se insubordinar a ponto de desequilibrar qualquer coisa.

O foco, portanto, está em Chávez, de um lado, e Lula, de outro. Chávez, aparentemente, é quem tem o fósforo na mão, para controlar a intensidade das labaredas. Com Fidel gravemente doente e sem perspectivas de poder, com Evo Morales no meio de uma guerra aberta na Bolívia e com Corrêa ainda arrumando a própria casa, quem manda é ele.

E Lula trata de se distanciar e se diferenciar de Chávez e de tudo o que ele representa de ameaça aos investidores externos. Enquanto Chávez insiste na ideologização do regime, no discurso apocalíptico e no confronto, Lula faz o oposto: lustra a imagem de pragmatismo econômico, mantém o discurso abrangente e investe na conciliação. Dentro do Brasil, quer unanimidade. Fora, quer ser o contraponto a Chávez.

No mais, deixo a você o início da CPI do Apagão Aéreo, que deve causar turbulências daqui e dali, como qualquer CPI, mas não deve se transformar nem em furacão nem em terremotos. Deve animar a mídia por um tempo, mas ter efeito político quase nenhum --como as últimas.

Boa sorte e até a volta!

PS - "Seu" Frias, o publisher da Folha, era um homem de olhos pequenos, vivazes, curiosos. Olhava para você como se estivesse querendo adivinhar sua alma. Fazia perguntas desconcertantes como quem não quer nada, como, aliás, devem fazer os bons jornalistas. Tinha faro empresarial, vocação política e um talento muito especial para conhecer e entender gente. Um homem público que entra para a história. Uma pessoa muito especial.

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