Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, abril 11, 2007

Nem aniversário, nem comemoração- Villas-Bôas Corrêa



Artigo
Jornal do Brasil
11/4/2007

Afinal, como ficamos? Se o que o presidente Lula diz não se escreve, começamos a duvidar do que ele fala na enxurrada de improvisos e nos seus programas semanais de rádio, o Café com o presidente. Cafezinho morno e aguado.

Para quem voa pelo país e pelo mundo no único avião que ignorou o apagão aéreo, com aeroportos abertos para o Aerolula, compreende-se o seu desconhecimento das horas e noites de espera das vítimas das atrapalhadas, abanadas com as suas desastradas intervenções, da maior bagunça de todos os tempos na aviação comercial deste país.

Mas, que diabo, se não foi informado pelos seus ministros da Defesa, em quatro anos do primeiro e 100 dias da encruada reeleição, da lambança nos sistema de controle aéreo, pelo menos poderia policiar a língua para evitar o ridículo do disse-que-disse que só jogou lenha na fogueira, com as brasas que advertem para os riscos de uma recaída na febre da crise mal cuidada.

Vamos lá: Lula foi surpreendido com a greve dos controladores de vôo quando viajava para o encontro com o presidente Bush, nos Estados Unidos. Avisado, incumbiu o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo - o único encontrado em Brasília na sexta-feira, 30 de março - de negociar com as lideranças grevistas uma solução imediata para a greve, prometendo este mundo e o outro: ninguém seria preso nem punido e a desmilitarização era uma questão de dias.

A leviandade embrulhada na desinformação jogou gasolina no monte de carvão incandescente: o brigadeiro Juniti Saito, comandante da Aeronáutica desde fevereiro, que determinara a prisão dos grevistas, reagiu à desmoralização da sua autoridade e contou com o apoio dos comandos.

No ar, sem pára-quedas, Lula não pensou duas vezes: sorvendo o café, bateu rijo nos controladores de vôo que o haviam traído e que foram tratados como irresponsáveis.

Tapou o buraco de um lado do muro, selando o entendimento com os chefes militares e entregando ao brigadeiro Saito, comandante da Aeronáutica, o controle da crise, com expresso apoio à decisão do Ministério Público Militar de abrir um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar se houve crimes militares, puníveis com prisão.

A tensa trégua da Páscoa, com os aviões voando e os aeroportos na cadência da rotina, fez cócegas na língua presidencial e inspirou o improviso no cafezinho com elogios aos ex-irresponsáveis, com jeito de pedido de desculpa: "Eu quero agradecer a todos os que contribuíram para a gente ter uma Páscoa de tranqüilidade".

E agora, em quê ficamos? Os paparicos lulistas trombam de frente com o inquérito militar para apurar as responsabilidades pela greve dos controladores de vôo civis e especialmente militares. E punir os culpados.

A desculpa antecipada de assessores oficiais, alegando que os agrados do presidente aos grevistas nada têm a ver com o desdobramento das apurações dos atos de desobediência, que caracterizam indisciplina, com quebra da hierarquia, não encerra a crise.

De alguma maneira, agrava. Uma conta a mais no rosário de atribulações do governo que chega aos 100 dias do bis sem ânimo para comemorar o falso aniversário de coisa nenhuma.

O trágico balanço de acidentes nas estradas esburacadas durante a Semana Santa, registra o aumento de 23,86% de desastres, com 2,6% de crescimentos de mortos e 29,25% de feridos. Vítimas da imprudência de motoristas e da enganação eleitoral do tapa-buraco.

Cem dias para os remendos no maior ministério de todos os tempos e, com as exceções de estilo, de constrangedora mediocridade.

Comemorar o quê? Bem, a turma do bloco parlamentar aliado vai receber o cobiçado prêmio com o rateio dos 20 mil cargos do segundo escalão do bolo com cobertura de chocolate da administração pública. Uma farra!

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