Entrevista:O Estado inteligente

domingo, abril 22, 2007

CELSO MING Nova costura


Depois de quatro anos de briga braba contra a política econômica do governo, o empresário Josué Gomes da Silva, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) e do sempre crítico Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ajusta algumas de suas posições.

Já não entende, por exemplo, que esteja tudo errado no câmbio, como fazia questão de dizer. Diz agora que não se pode esperar pela reversão da valorização do real, que o ajuste terá de ser feito sem artificialismos e que o câmbio flutuante veio para ficar.

Ao contrário de muitos críticos da atual política cambial, sustenta que o sistema de metas de inflação é o mais adequado para ancorar os preços no Brasil e, com isso, fica entendido que os juros devem se mexer só para pôr a inflação na meta e não para consertar o câmbio. Independentemente disso, Josué acha que os juros podem cair “mais uns quatro ou cinco pontos porcentuais”, sem prejuízo para a meta.

Reconhece que o real valorizado expôs as mazelas da economia, que não estavam evidentes enquanto o câmbio foi favorável. Entre essas mazelas estão a baixa competitividade da indústria, porque enfrenta altíssimos custos (carga tributária extorsiva, juros altos demais, precariedade da infra-estrutura, etc.), e, paradoxalmente, até a simplificação tributária (Sistema Simples), que impõe o nanismo às empresas, pulveriza a produção e impede ganhos de escala.

O quadro adverso se completa com a falta de acesso aos mercados e com a concorrência externa desleal que produz o subfaturamento de importações e o descaminho (contrabando).

O setor têxtil apresenta fortes indícios do desvio. A China atesta que, em 2005, exportou para o Brasil 32 mil toneladas de vestuário. Mas o desembaraço aduaneiro daqui acusa entrada de apenas 20 mil. Em 2006, esses números guardaram relação parecida: 37 mil contra 22 mil toneladas.

Por isso, o que deve ser feito, adverte Josué, não é baixar os juros por decreto ou desvalorizar artificialmente o real, mas atacar as causas do problema, especialmente as altas despesas públicas concomitantemente a uma corajosa desoneração tributária.

E cobra do governo acordos comerciais que garantam acesso aos melhores mercados: Estados Unidos, União Européia e Japão. Para coibir o jogo sujo dos asiáticos, sugere concentrar o desembaraço alfandegário a cinco ou seis portas de entrada, para facilitar a fiscalização. E, para garantir o mercado externo, quer mais acordos comerciais como os que deram a dianteira a vizinhos, como América Central, Caribe, Colômbia, Peru e México.

Para reequilibrar o câmbio adverso, enumera duas providências, sem ousar defendê-las: taxação das exportações e controle do fluxo de capitais.

Admite que a taxação das exportações de commodities (confisco) prejudicaria muitas empresas brasileiras e que o controle do fluxo de capitais parece ineficaz num mercado cada vez mais criativo a ponto de permitir o fechamento de operações no exterior sem transferência de divisas.

Reconhece mais: que, na Tailândia, o controle do fluxo de capitais deu errado e que, se fosse adotado no Brasil, derrubaria a Bolsa, com prejuízo para as empresas de capital aberto.

Entre as providências que poderiam ser tomadas para estabilizar o câmbio, não cita maiores estímulos às importações. Ao contrário, Josué defende o aumento das alíquotas da Tarifa Externa Comum (TEC) dos têxteis e de todos os produtos mais prejudicados pelo câmbio valorizado.

E-mail: celso.ming@grupeostado.com.br

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