A Microsoft dá desconto de 99,25% em pacote de
programas para atingir o consumidor de baixa renda
Alex Masi/WPN |
Propaganda do Vista, em Londres: a venda de produtos populares cresce mais rápido |
O indiano C.K. Prahalad, professor da Universidade de Michigan, firmou-se como um dos mais destacados pensadores da administração moderna ao lançar, em 2004, o livro A Riqueza na Base da Pirâmide – Como Erradicar a Pobreza com o Lucro. A obra mostra como algumas empresas alcançam grande sucesso comercial ao adequar produtos e estratégias para conquistar a fatia mais pobre dos consumidores, um contingente estimado em 5 bilhões de pessoas. Pois, na semana passada, a Microsoft avançou surpreendentemente sobre esse modelo de negócio. O dono da empresa, Bill Gates, anunciou, em Pequim, que venderá pela bagatela de 3 dólares um pacote incluindo o Windows e o Office, cujo preço nas prateleiras das lojas seria de 400 dólares. Trata-se de desconto de 99,25% de um produto de alta tecnologia. As vendas devem começar em setembro e serão feitas apenas a órgãos governamentais que adquirirem PCs para fornecimento direto a estudantes.
O novo passo dado pela Microsoft responde numa só tacada a uma série de recentes movimentos registrados no comércio mundial de sistemas operacionais. Hoje, nove em cada dez computadores pessoais do mundo usam Windows. Mas as vendas dos produtos novos (e caros) esbarram em mercados saturados, que crescem em ritmo lento. Proporcionalmente, o programa operacional Vista, lançado em janeiro, vendeu em um mês quase o mesmo número de cópias que o modelo XP havia comercializado em 2001. Por outro lado, o consumo popular mostra-se palpitante. A versão mais barata e sem gorduras do Windows, o Start Edition, registrou um êxito excepcional. O produto foi lançado em 2004 na Tailândia. Em dois anos, até setembro de 2006, havia vendido um total de 1 milhão de cópias. "As vendas dobram a cada seis meses", diz Mike Wickestrand, diretor da Microsoft Market Expansion Group. Hoje, o Start Edition equipa 2 milhões de PCs.
Outro problema que a nova estratégia de negócios da companhia tenta enfrentar é a presença crescente do software livre, caso do Linux, em computadores usados em programas educacionais. Até o lançamento do pacote de 3 dólares, o emprego do Windows nessas iniciativas era economicamente inviável. É por isso que projetos como o One Laptop per Child, criado para equipar escolas públicas de onze países com um notebook para cada aluno, tem como premissa o uso de sistemas operacionais abertos. Para a Microsoft, a longo prazo, a possibilidade de deixar essa novíssima geração de usuários ser seduzida por programas alheios constitui um grave risco. "Mas agora vamos entrar também no segmento educacional e a concorrência será positiva para todos", diz Jorge Sales, responsável pelos negócios da empresa na América Latina. Estima-se que exista 1 bilhão de computadores em operação no mundo. A Microsoft quer conquistar mais 1 bilhão de consumidores até 2015. Algo que pode ser muito difícil sem olhar com cuidado para a parte de baixo da pirâmide.
A preço de banana
As vendas dos programas a 3 dólares começarão em setembro e serão feitas a governos que fornecerem PCs a estudantes
400 dólares
é o preço normal dos softwares oferecidos nas lojas pela Microsoft
O pacote inclui Windows XP Start Edition, Office, Windows Live Mail, além de programas educacionais como o Microsoft Math 3.0 e o Learning Essentials