É um protesto triste mas eloqüente, ver cruzes e rosas lembrando seus mortos, onde devia ser só beleza
H Á ALGUMAS semanas foram fincadas 700 cruzes de madeira na praia de Copacabana, a mais bonita do mundo, lembrando os 700 mortos na cidade neste ano. Parecia aqueles cemitérios militares, depois de uma guerra. Dias depois houve um novo protesto: pessoas vestidas de preto se deitaram na calçada da av. Atlântica, lembrando os assassinados, que já eram mil. Esta semana foram fincadas na areia da praia 1.300 rosas vermelhas, cada uma delas em homenagem aos 1.300 mortos em menos de quatro meses na cidade.
O Movimento Rio Paz, responsável por esses protestos contra a violência, não faz alarde, não avisa sobre o que vai fazer pela televisão nem pelos jornais. Só protesta, silenciosamente. É um protesto triste mas eloqüente, ver cruzes e rosas lembrando seus mortos, em um lugar que devia ser só de beleza e alegria. E no Rio acontece todos os dias; é um túnel que fica fechado, é um bairro onde há um tiroteio, são as balas perdidas; as pessoas morrem e não acontece nada, e nós vamos nos acostumando e achando que a vida é assim mesmo. Só que não é.
A ajuda que nosso novo governador pediu ao governo federal foi como uma ajuda que uma criança pede ao pai, para que o proteja dos garotos mais fortes do colégio. Com isso ele transfere sua responsabilidade e pode usar seu tempo fazendo o que mais gosta: ir a todas as estréias, todos os shows, todos os acontecimentos da cidade que dão notícia em jornal. Uma gracinha esse governador, um verdadeiro carioca, e tão simpático. Não dá para esquecer as cruzes e as rosas na praia de Copacabana, e do jeito que as coisas vão, da próxima vez serão caixões ou os próprios cadáveres exibidos na areia; assim, talvez, as autoridades se toquem.
Mas que autoridades? Vários policiais federais, civis e militares estão presos, juízes, procuradores e desembargadores recebiam propina dos bicheiros por suas sentenças -de 100 mil a 1 milhão-, a Polícia Federal entrou em greve porque o governo não deu o aumento prometido -não de boca, mas assinado e carimbado-, e com isso recomeçaram as filas nos aeroportos. Mas o governo Lula continua lutando bravamente para que a CPI do Apagão não vingue, e o ministro Waldir Pires permanece firme no seu posto. Não dá para entender por que ele, um homem íntegro, ainda não pediu demissão, o que já deveria ter acontecido há meses.
E que ninguém se iluda achando que os controladores de vôo estão tranqüilos, em paz, e a crise resolvida; ganhar R$ 2.000 para um trabalho de tal responsabilidade, controlando 14 aviões no lugar de sete, o que seria o correto, dormindo pouco e em estado de tensão não costuma dar certo. A queda do Gol ainda não foi totalmente esclarecida, e ninguém toma um avião nos dias de hoje com tranqüilidade.
Mas o país vai bem -pelo menos é o que acha o presidente. Lula está no melhor dos mundos, vive rindo e fazendo piadas, as reformas não saem, os deputados não trabalham mais -oficialmente- às segundas-feiras, terça-feira é feriado, Dia de São Jorge (excelente para enforcar a segunda), e a outra terça-feira também é feriado -1º de maio, Dia do Trabalho-, outra boa ocasião para um longo feriado. Mas não é só isso que me preocupa: é o desaparecimento de d. Marisa Letícia. Onde está a primeira-dama?