Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 21, 2007

VEJA Carta ao leitor


O Brasil tem jeito

Ed Ferreira/AE
Prisão do desembargador Ernesto Dória: a vez de o Judiciário ser depurado

Desde a volta da democracia, em 1985, o país tem passado por uma série de escândalos na esfera institucional. No Poder Executivo, houve o impeachment de um presidente e, recentemente, a demissão de ministros envolvidos em esquemas ilícitos. No Legislativo, por seu turno, ainda se escutam os ecos do mensalão e não empalideceram as imagens dos "anões" da Máfia do Orçamento sendo banidos da vida pública. Agora, com a Operação Hurricane (furacão, em inglês), deflagrada pela Polícia Federal para prender os integrantes de uma quadrilha que explorava o jogo de caça-níqueis, chegou a vez de o Judiciário ter exposta a sua banda podre. Três desembargadores foram presos e um ministro do Superior Tribunal de Justiça está afastado das suas funções. Pesa sobre esses togados a acusação de venda de liminares. Com tais instrumentos jurídicos, os exploradores do jogo conseguiam manter em funcionamento milhares de casas ilegais de jogatina, dotadas de máquinas manipuladas para lesar o jogador. Há indícios de que pode haver ainda outros altos integrantes do Judiciário comparsas dessa máfia.

A sucessão de escândalos de corrupção no Brasil costuma provocar nos cidadãos a impressão de que o país não tem jeito. É como se a desonestidade fosse parte inextirpável do caráter nacional. Compreende-se que os ânimos se arrefeçam, mas é preciso enxergar o fenômeno de um ângulo mais amplo. Em primeiro lugar, os escândalos só vêm à tona graças ao bom funcionamento das instâncias responsáveis pela fiscalização do poder – entre as quais a imprensa livre, a polícia e, ressalte-se, a imensa maioria dos integrantes do Poder Judiciário. Em segundo lugar, a cada quadrilha estourada, a cada esquema desvendado, dá-se um passo a mais para a depuração das instituições. Por isso, pode-se analisar a operação da Polícia Federal ora em curso como uma contribuição ao aprimoramento da Justiça, cuja distribuição igualitária e eficiente é um dos pilares das sociedades abertas e modernas. A continuar por esse caminho, o Brasil tem jeito, sim.

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