BRASÍLIA - Lula mantém Marina Silva por tudo o que ela representa interna e externamente, como carrega Celso Amorim para palanques, debates, encontros do PT. Marina e Amorim são o verniz de esquerda do governo.
Lula precisa da imagem de Marina e do carimbo "esquerdista" que se solidificou na política externa -uma espécie de último reduto das velhas crenças e pregações tanto do PT quanto do próprio Lula.
Na prática, porém, Lula dá contornos muito mais pragmáticos às duas áreas. No caso do ambiente, já está decidido que as hidrelétricas do rio Madeira vão ser construídas, com ou sem parecer favorável do Ibama, porque o país precisa. Ponto. Não dá para crescer e ter sustentabilidade energética apenas com biomassa e energia eólica.
E, no caso de Amorim, OK, a política externa continua sendo um diferencial à esquerda no conjunto comportado e até conservador do governo, mas com uma diferença bastante nítida neste segundo mandato: Lula se cansou dos arroubos megalomaníacos de Chávez e dos testes de força de Evo Morales, que raiam o patético. E investe em biocombustível com Bush, fortalecendo a aproximação com o resto do continente e com a África.
Além disso, Lula descobriu dois bons nomes para manter os resquícios do verniz mais esquerdista: Fernando Haddad e José Temporão, que são jovens, têm um ar moderno e estão apresentando programas com começo, meio e fim em educação e saúde, historicamente muito identificadas com o PT.
Afora isso, os movimentos sociais estão se coçando e voltaram as invasões do MST. Lula manda dizer que não age "com a faca no pescoço", mas esse tipo de coisa segura uma aura de "governo democrático" que lhe convém. Eles, pois, são convenientes -desde que sob controle. Conclusão: o governo tem um recheio conservador e uma casca "de esquerda". O gosto é popular.
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