Alberto Tamer*
As dificuldades de se chegar a acordos comerciais multilaterais começam a pôr em dúvida a sua eficiência num mundo em que a economia se movimenta com maior dinamismo e enfrenta novos desafios, bem diferentes dos que existiam quando da criação da Organização Mundial do Comércio (OMC). Hoje, o comércio mundial é de mais de US$ 12 trilhões sem contar os US$ 2 trilhões de serviços.
Tudo leva a crer que a fase desses acordos já passou. Nada foi conseguido nos últimos dez anos e as negociações em torno da Rodada Doha se arrastam mais levada pela sua gravidade própria do que por avanços. Continuamos parados onde estávamos e, pela última reunião na Índia, tudo indica que continuaremos no mesmo lugar. Essa imobilidade que tanto prejudica os países agroexportadores e beneficia os Estados Unidos e a Europa vai continuar.
Em reunião realizada esta semana nos EUA e noticiada pelo Financial Times, o Atlantic Council of the USA, que conta com dois ex-subsecretários do Comércio, concluiu que os acordos multilaterais estão superados por falta de agilidade e de difícil consenso, senão impossível, entre mais de 100 países associados. Nem o G-20 e agora o G-4 ( Brasil, EUA, Europa, Índia) conseguiram alguma coisa.
OS EUA NÃO QUEREM NADA...
Ainda segundo o Financial Times, os presentes no encontro da Índia propuseram que EUA e Europa assumissem o compromisso de propor um novo modelo comercial - para esta coluna um conto da carochinha, pois eles não têm nenhum interesse nisso. Estão bem como estão. Os EUA aumentando agora suas exportações e fazendo acordos bilaterais, alguns bilionários, como o da Coréia do Sul.
... E A EUROPA TAMBÉM
A Europa, por seu lado, segue o mesmo caminho e anunciou nesta semana que vai negociar com os países do Leste Europeu, hoje superando os EUA em exportações para a comunidade. Ainda em início de frágil recuperação, após quatro anos de estagnação, está fechada no seu próprio bloco, negociando entre si e com as antigas colônias, indiferente às propostas e aos protestos de países como Brasil, Índia ou mesmo a Austrália, entre outros. A Europa quer se entender, isto sim, com os EUA, ambos que subsidiam e protegem ferreamente seus agricultores, eleitores de peso numa democracia. “Você baixa que eu baixo”, diz um ao outro. E ninguém reduz subsídio algum.
UMA NOVA POLÍTICA COMERCIAL
Esta é a realidade e os países desenvolvidos estão se adaptando a ela. Os acordos bilaterais liderados pelos EUA proliferam, depois da Coréia pretendem partir para outros caso o Executivo ganhe a autorização do Congresso. E mesmo que não ganhe, tudo poderá ser reiniciado após a eleição presidencial. Enquanto isso, ele vai tentando ter a aprovação do Congresso para os acordos feitos com vários países, inclusive na América Latina.
O ISOLAMENTO ABSURDO
Aqui, o Brasil continua isolado, não aceitando, parece, qualquer insinuação de acordos bilaterais, a não ser as aproximações inúteis com países africanos que não compram nada e não consomem nada. É uma estultice teimosa que agride o bom senso. Estamos aí purgando com a Argentina os acordos no contexto do Mercosul, um enfermo a caminho da UTI.
Enquanto isso, a China, ao mesmo tempo em que avança sobre o nosso mercado - e não são nem os brinquedos nem as bugigangas do passado -, está nos roubando o mercado argentino. O embaixador do Brasil na China, Castro Neves, fez uma análise perfeita da situação, em texto lido em seminário realizado em São Paulo. As retaliações do Brasil, se vierem, não resolvem tudo. Elas apenas criam um ambiente hostil. O importante mesmo é pôr em prática uma política comercial coerente que permita dar aos produtos brasileiros maior capacidade de competição no exterior. As empresas nacionais que exportam, principalmente para a China, mas também para outros países como EUA e Europa, estão com as mãos amarradas, impotentes, passaram a produzir na China o que produziam no Brasil. É, em alguns casos, uma questão de sobrevivência. Ou estão indo para a China ou estão importando de lá. Muitas passaram de produtoras para simples empresas de trading, importam para poder produzir a custo menor e exportar.
Sei que o leitor deve estar perguntando como posso afirmar que não temos uma política comercial se as exportações estão aumentando? Aumentam sim, mas por causa principalmente dos produtos primários, não industrializados, e a conta-gotas enquanto países emergentes como China e Índia, caminham celeremente a passos largos. Estamos no último lugar entre esses países e, repito, representamos apenas 1,1% do comércio mundial. É nada, absolutamente nada. Uma insignificância.
O triste é que temos potencial para crescer muito mais se tivermos uma política comercial preocupada com os problemas de infra-estrutura, juros e impostos altos. Se reduzirmos, enfim, o enorme custo Brasil.
Quanto à pergunta sobre como sei que não há política comercial, respondo com outra: “Por favor, diga-me quem coordena a política comercial brasileira? O Itamaraty? O Ministério do Desenvolvimento? A Fazenda? Todos e ninguém. Estão aí disputando espaço entre si.
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