PARIS - Anos atrás, em plenos anos Clinton, com todo aquele formidável boom norte-americano, o líder sindical John Sweeney, presidente da AFL-CIO, a central sindical norte-americana, falou em Davos para eufóricos norte-americanos e um bando de europeus loucos para copiar o modelo dos Estados Unidos.
Sweeney foi de uma dureza ímpar: o modelo é "tóxico", disparou. Logo, não serve para ser importado.
Enumerou a seguir as razões pelas quais a economia norte-americana era forte, todas elas digamos naturais: grande território, população idem, recursos naturais formidáveis, imensa classe média.
Anotei, feliz, o "classe média" como ativo, principalmente porque no Brasil a classe média é geralmente vilipendiada, às vezes com razão, outras vezes apenas porque é feio, em um país miserável, estar acima da massa de pobres.
A fala de Sweeney voltou à memória ao ler a reportagem de Tatiana Resende, na Folha de ontem, sobre o "encolhimento" da classe média no Brasil, detectado em estudo da Unicamp.
Éramos 45,6% em 1996, encolhemos para 36,2% em 2004, para voltar a subir (para 40,6%) em 2005, assim mesmo abaixo do índice de dez anos atrás.
O economista Waldir Quadros, um dos autores do estudo, constata que "ocupações precárias e mal remuneradas vão sendo aceitas como um mal menor. E também cada vez mais os indivíduos e as famílias vão relaxando seus padrões morais na luta pela sobrevivência".
É, de certa forma, o que tenho cansado de escrever neste espaço: o brasileiro foi mediocrizando suas expectativas. E, ao fazê-lo, como constata Quadros, "relaxou seus padrões morais", do que resulta (palpite meu) o nefando quadro político dos últimos muitos anos.
Nesse cenário, será muito difícil, talvez impossível, que o país viva algum boom algum dia.
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FOLHA DE S PAULO