Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 28, 2007

Itália A fusão do partido católico com o socialista

A segunda morte do PCI

Depois de mudar de nome e credo, o partido
se funde com a democracia cristã


Thomaz Favaro

Giorgi Benvenuti/AFP
Comunistas em manifestação sindical em Bolonha: sem um partido para chamar de seu

Uma das primeiras missões recebidas pela CIA, então recém-criada pelos Estados Unidos, foi impedir a vitória do Partido Comunista Italiano nas eleições de 1948. "Se a Itália vira vermelha, ninguém segura o comunismo na Europa", era a avaliação feita na época pelo Departamento de Estado, que financiou a campanha vitoriosa dos democrata-cristãos. Durante o restante da Guerra Fria, a política italiana obedeceu a um padrão: os democrata-cristãos, aliados dos americanos, participaram das coalizões de governo durante quatro décadas, fazendo alianças estratégicas segundo dois princípios – manter os comunistas longe do poder e a corrupção dentro do governo. O Partido Comunista Italiano (PCI) era o maior partido comunista do Ocidente e a segunda força política do país. Chegou a ter mais de 2 milhões de filiados e mantinha um terço do eleitorado a seu favor. A história é evocada aqui para ilustrar um fato transformador: o anúncio, na semana passada, da fusão do partido Democracia e Liberdade (a antiga democracia cristã) com os Democratas de Esquerda (antigo PCI). A fusão levará o nome de Partido Democrata, inspirado no homônimo americano.

O PCI já foi totalmente subserviente à vontade soviética. Mas na década de 50, enquanto outros partidos comunistas da Europa se mantinham obedientes à doutrina de Moscou, o italiano começou sua ruptura com os soviéticos e suas atrocidades no Leste Europeu. O partido formulou seu próprio modelo, o eurocomunismo, uma versão mais light, ajustável às condições de cada país. "O PCI sempre trabalhou com as regras da democracia e soube deixar de lado a ideologia em nome da evolução do partido", disse a VEJA Sergio Fabbrini, professor de ciência política da Universidade de Trento, na Itália. Após o fim da União Soviética, o partido abandonou de vez o rótulo de comunista e adotou o atual nome, Democratas de Esquerda.

Gianni Giansanti/AP
Corpo de Aldo Moro: o terror quis evitar acordo com a direita

Vermelhos e brancos, como eram conhecidos os democrata-cristãos, já haviam tentado uma aliança no fim dos anos 70, chamada de "compromisso histórico", com o objetivo de conter o terrorismo de extrema esquerda na Itália. Os terroristas da Brigada Vermelha conseguiram abortar as negociações com o seqüestro e o assassinato de Aldo Moro, líder da democracia cristã. Quando o Muro de Berlim caiu, os dois partidos enfrentaram crises internas e trocaram de nome. Dois fatores foram cruciais para que uma nova aliança se desenvolvesse: a debandada de suas alas mais radicais e a ascensão de um inimigo comum, a direita liderada por Berlusconi. A união entre ex-inimigos tem valor mais histórico que prático. Os dois partidos, que nos tempos áureos somavam 70% dos votos, amargaram 28% nas últimas eleições. Essa marca seria suficiente para tornar os democratas a maior força política nacional, mas não para superar o clássico problema italiano: ninguém governa o país sem costurar acordos com partidos anões.

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