Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 21, 2007

O casamento entre o PC e a TV

O casamento do século

A união entre TV e computador fica mais próxima
com a chegada de uma nova geração de aparelhos


No começo de maio, a mais recente invenção saída da cartola de Steve Jobs, o chefão da Apple, deverá ser lançada no Brasil. À venda nos Estados Unidos desde março, o Apple TV estabelece uma ponte entre a televisão e o computador. Com o tamanho aproximado de um decodificador de TV a cabo, o aparelhinho pretende ser para o vídeo aquilo que o iPod é para a música. Por meio dele, o usuário transfere filmes, seriados e afins do computador para a televisão. Ao ser lançado, contudo, o Apple TV não obteve a mesma unanimidade de público e crítica de outros produtos da companhia de Jobs. Entre seus defeitos está o fato de (ao menos em princípio) trabalhar apenas com os cerca de 400 filmes e 200 séries de TV à venda no iTunes, a loja virtual da Apple. Também há problemas técnicos – como a qualidade de imagem, inferior à de um DVD comum. Apesar dos pesares, o Apple TV aponta no caminho certo. A união entre televisão e computador é uma espécie de casamento do século – e, depois de mais de uma década tateando à procura de formas de viabilizá-la, as companhias parecem estar chegando a um denominador comum. O produto da Apple não está sozinho no mercado. As concorrentes Sony e Microsoft desenvolveram equipamentos parecidos. A primeira já lançou no exterior a terceira geração do LocationFree, que conecta o computador, a televisão e o PlayStation na sua versão portátil. A Microsoft colocará no mercado americano no fim deste mês o Xbox 360 Elite, que, além de ser um console de jogos, permite baixar e estocar grande quantidade de vídeos da internet.

Não é difícil compreender o que está em questão. A TV ocupa um lugar central na vida das pessoas – e nada indica que isso deixará de ser verdade tão cedo. Já o computador e a internet são o terreno em que a revolução do vídeo independente está acontecendo. Era natural que se buscasse aproximar o eletrodoméstico da sala de estar daquele que costuma ser acomodado no quarto ou no escritório. As possibilidades abertas por essa integração vão mudar a vida do espectador. O computador deverá se converter numa videoteca. Por meio dele, um dia será possível transportar para a TV o acervo inesgotável de vídeos de sites como o YouTube. Ele funcionará, ainda, como uma ferramenta de compra e locação – o que se vislumbra é nada menos que o dia em que os discos de DVD poderão ser dispensados.

Segundo a consultoria Adams Media Research, em 2006 foram gastos nos Estados Unidos cerca de 28 milhões de dólares entre compra, aluguel e assinatura de serviços de vídeo pela internet. A projeção para este ano é que esse valor quintuplique. Em 2011, deverá chegar à casa dos 3 bilhões de dólares. O número parece baixo se comparado aos 16,5 bilhões de dólares que se faturou com os DVDs nos Estados Unidos no ano passado – mas a tendência a médio prazo é que essa vendagem fique estagnada. Não por acaso, as duas tecnologias que até pouco tempo atrás duelavam para se viabilizar como sucessoras do DVD – o Blu-ray, da Sony, e o HD-DVD, da Toshiba – caíram em desgraça. Por outro lado, as locadoras virtuais vão de vento em popa. Somente o iTunes contabilizou 1,3 milhão de filmes e 50 milhões de programas de TV vendidos desde outubro de 2005, quando se lançou nesse negócio. Hoje, ele enfrenta quatro concorrentes de peso: Netflix, Amazon Unbox (da livraria virtual Amazon), Movielink e BitTorrent. Até a gigante do varejo Wal-Mart passou a oferecer vídeos em seu site.

Se esse comércio já começa a ter uma feição bem definida, ainda há várias questões em aberto sobre a forma como se dará a ligação entre televisão e computador. No passado, houve experiências tão frustrantes nesse sentido como a WebTV. Surgido em 1995, o conjunto que permitia acessar a caixa de e-mail e páginas da rede na tela da televisão era um híbrido mal resolvido. Além da qualidade de conexão sofrível, não era nada confortável de operar – basta dizer que o espectador, esparramado no sofá, tinha de ficar com um teclado de computador no colo o tempo todo. Uma pesquisa recente apontou que a complicação é a principal razão pela qual 80% dos americanos ainda preferem valer-se da TV a cabo e de sistemas que vendem programação à la carte, como o TiVo, a obter o que querem ver por meio do computador. Por isso, os aparelhos que estão chegando ao mercado buscam concentrar-se no essencial: dar ao espectador a chance de armazenar seus vídeos favoritos e assistir a eles quando bem entender. O Xbox deverá ter capacidade para guardar mais de 100 horas de material – o triplo do que tem o Apple TV. O LocationFree possibilita que se acessem os arquivos do computador do usuário e o sinal da TV a cabo de qualquer lugar – abre caminho, enfim, para usufruir tudo isso num laptop.

Não há dúvida de que a nova geração de aparelhos dá um passo adiante – mas ainda há muito chão para que cumpram tudo o que a integração promete. Uma questão crucial continua sem solução: como reproduzir na TV de forma satisfatória os vídeos veiculados em tempo real na internet? Sem isso, nem pensar num YouTube na tela da TV de plasma, por exemplo. Isso sem falar nas restrições que o espectador encontra para baixar arquivos nesses equipamentos. Por meio do novo Xbox, só se poderá assistir aos vídeos disponíveis num serviço da Microsoft, o Live. Ao se comunicar apenas com o iTunes, o Apple TV priva o usuário de milhares de filmes e programas à venda em outros serviços. Como quase sempre acontece nos computadores, é possível burlar essas restrições – mas isso requer algum conhecimento técnico e gastos extras. O dono do Apple TV pode, sim, descarregar no aparelho os DVDs de sua coleção caseira, ou os vídeos armazenados na memória de seu computador, mas precisará arranjar programas especiais (como o VideoHub) para fazer a conversão.

Os interessados brasileiros, aliás, já podem se preparar: por enquanto, lançar mão de programas desse tipo será o único meio de usufruir o Apple TV. Embora os usuários de internet do país estejam entre os mais ativos do mundo, o mercado nacional ainda não se tornou atraente o bastante para as locadoras virtuais. As razões por que iTunes e seus congêneres não operam no país são várias – as principais delas, a baixa penetração das conexões de banda larga e o temor da pirataria. Esses problemas retardam a inclusão dos brasileiros no novo mundo do vídeo. Mas ela vai acontecer.

REINADO CONTESTADO

Divulgação
Ato anti-DRM: abaixo as barreiras


O reinado da Apple no mercado de música digital nunca foi tão contestado. A empresa de Steve Jobs encontra-se no meio do fogo cruzado num debate sobre direitos autorais, ponto crítico dessa área. Em várias partes do mundo, sofre pressões para que o código que protege os fonogramas vendidos em sua loja virtual, o iTunes, seja abolido. Em fevereiro, Jobs admitiu em seu blog que os consumidores acabarão por impor isso (até porque as músicas vendidas em CDs não dispõem de proteção semelhante). No início deste mês, a EMI, uma das quatro grandes gravadoras do mundo, revelou que abrirá mão do DRM, o sistema em questão, na venda avulsa de suas músicas na internet – e tudo indica que as demais logo farão o mesmo. Uma semana depois, a União Européia anunciou uma ação antitruste contra a Apple e as gravadoras. Para além dos direitos autorais, o que está em jogo é a primazia do próprio iTunes e do iPod. Hoje, músicas protegidas com o DRM da Apple só podem ser tocadas nesse último. Sem o DRM, ficaria aberto o caminho para as pessoas baixarem músicas de qualquer site no iPod e usar o iTunes para alimentar aparelhos de outras marcas. A eliminação desse vínculo, obviamente, tira uma vantagem da Apple. Mas não é o único flanco pelo qual sua liderança é atacada. Os esforços das concorrentes para tirar um naco das vendas do iPod (foram 100 milhões de unidades desde 2001) até agora foram em vão. Mas em março chegou às lojas americanas um aparelhinho que, na opinião de analistas, pode ameaçá-lo de fato. O Sansa Connect, da SanDisk, tem aplicações inéditas para a internet sem fio. O usuário que estiver num ambiente com esse tipo de conexão pode acessar serviços de música e imagens. Coisa que o iPod não faz.


Por que a ligação com o computador vai mudar a experiência de ver TV


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