Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 21, 2007

O cientista que descobriu os danos ao ozônio

O guardião da atmosfera

Frank Rowland descobriu os danos ao ozônio.
Agora luta contra o aquecimento global


Ronaldo França

Caetano Barreira/Reuters
Poluição à vista: a boa notícia é que se pode evitar o pior, mas é preciso agir agora

Quem acha que já deu uma importante contribuição ao planeta, como plantar uma árvore ou economizar água no banho, precisa conhecer o químico americano Frank Sherwood Rowland, prêmio Nobel de Química de 1995. Seus estudos, na década de 70, em parceria com o químico mexicano Mario Molina, levaram à conclusão de que a humanidade estava causando danos à camada de ozônio, uma década antes de o buraco sobre a Antártica ser descoberto. Graças a ele, o mundo conheceu o diagnóstico e a cura a tempo de reagir. O fim das emissões do gás clorofluorcarbono (CFC), causador dos danos, foi determinado por um tratado internacional, o protocolo de Montreal, em 1987. O problema caminha agora para uma solução. Aos 79 anos, Rowland continua estudando a atmosfera e alerta que as conseqüências já anunciadas do aquecimento global são imprevisíveis. Ele tem autoridade para isso. "Molina e eu não previmos o buraco no ozônio. Isso era algo totalmente inesperado quando publicamos nosso artigo sobre o assunto", diz.

Karl Schoendorfer/Rex Features
Rowland: alerta ao mundo contribuiu para impedir uma catástrofe


Professor de química na Universidade da Califórnia, Rowland é um cidadão global. Não no sentido em que se costuma usar o termo, para identificar quem passa a vida entre um continente e outro, fechando negócios ou freqüentando festas. Ele vive no condado de Corona del Mar, também na Califórnia, mas seu ambiente predileto é o globo terrestre, objeto de seus estudos há 34 anos. Rowland e Molina descobriram que o clorofluorcarbono, em contato com a radiação solar, provocava a redução das moléculas da camada de ozônio, a chamada ozonosfera. O CFC era produzido pelo homem e tinha na época apenas aplicações como gás de geladeira ou em sprays para cabelo. Algo tido, então, como inofensivo, pois o volume fabricado era pequeno. Coube a eles, portanto, a tarefa de informar que o ser humano estava estragando o planeta. No momento, Rowland monitora a quantidade de metano na atmosfera. Esse é o segundo gás na lista dos que acentuam o efeito estufa. Perde apenas para o famigerado dióxido de carbono, que brota dos canos de descarga dos automóveis e das chaminés das fábricas. E tem boas notícias a dar. "A concentração de metano não tem aumentado nos últimos anos", diz.

Quando ele fala, o mundo inteiro ouve. Suas descobertas, em 1974, tiveram receptividade imediata nos Estados Unidos. O artigo de Rowland e Molina foi aceito pela prestigiosa revista Nature e causou comoção nacional. Imediatamente, iniciou-se uma investigação federal para averiguar o problema. Quatro anos depois, os Estados Unidos proibiram a fabricação do CFC no país. Quando o buraco na camada de ozônio foi descoberto, em 1985, por cientistas ingleses, o mundo viu as hipóteses dos dois cientistas se confirmarem. A aceitação às suas teses foi facilitada graças a outro cientista. O químico holandês Paul Crutzen, ao estudar o efeito de outro gás, o óxido nitroso, já havia feito um alerta sobre os problemas com a camada de ozônio. Não teve o mesmo impacto, mas abriu caminho. Tanto que Crutzen dividiu o Prêmio Nobel de Química com Rowland e Molina. Desde então, Rowland não parou. Na próxima semana, será uma das estrelas do Fórum de Desenvolvimento Sustentável, que a Associação das Nações Unidas-Brasil, braço civil da ONU no país, realizará em Nova York. Antes, conversou com VEJA sobre as mudanças climáticas. O que ele diz:

A CULPA É DO HOMEM – Somos claramente responsáveis pelo aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2), que é o fator mais importante na mudança do clima. Acho que temos de atentar para o fato de que pela primeira vez a humanidade está se dando conta de que pode realmente influenciar as coisas em bases globais, de uma forma como nunca fizera antes.

AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS – Os problemas que estão por vir são imprevisíveis. Vou dar um exemplo: o abeto-vermelho (árvore conífera rica na produção de resina, comum nas florestas temperadas) tem crescido por séculos em Kenai, península do sul do Alasca. As árvores começaram a ser atacadas por um tipo de inseto. Isso se tornou um problema, mas nunca havia chegado a ponto de ser uma ameaça maior, porque boa parte dos insetos morria nos meses mais frios. Quando o Alasca começou a esquentar um pouco mais, os escaravelhos deixaram de morrer no inverno e eliminaram completamente as árvores de abeto. Para que prevíssemos uma conseqüência como essa, precisaríamos de um modelo meteorológico e biológico muito complexo.

O INIMIGO É O CO2 Estudamos as mudanças que vêm ocorrendo na troposfera, a parte mais baixa da atmosfera. Há mais ou menos sete anos não vemos um aumento significativo de metano. Não sabemos por que isso aconteceu, mas é uma mudança importante do ponto de vista do aquecimento global. Por outro lado, a concentração de CO2 tem crescido mais rapidamente do que na década de 1960 por causa da queima de carvão, gás e petróleo. Esse é nosso grande problema.

OS EUA TERÃO DE REVER SUA POSIÇÃO – A visão da população americana é que será necessário fazer alguma coisa, mesmo que o governo não faça. Será muito difícil para os Estados Unidos manter sua posição se um número substancial de pessoas e grandes corporações mudarem sua posição, mas as corporações realmente grandes, na maior parte, lidam com os combustíveis fósseis. E até agora a maioria dessas empresas está protelando a tomada de medidas a esse respeito.

UM RECADO AOS CÉTICOS – Uma coisa que se dizia repetidamente quando eu e Mario Molina publicamos nosso primeiro artigo era que o mundo tem tamanha magnitude que somente um idiota acreditaria que as ações dos seres humanos poderiam ter algum efeito visível. E que apenas pessoas duplamente idiotas poderiam sugerir que sprays para cabelo contribuiriam para esse efeito.

O DEVER DE CASA – Se entendermos o planeta suficientemente bem, talvez possamos encontrar caminhos que nos levem a um resultado positivo. É como devemos proceder com relação ao aquecimento global e às mudanças climáticas. Enquanto isso, o que nos resta fazer é reduzir as emissões de CO2.

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