"A partir de agora, meu lema é oposição REM.
Os petistas roubaram? Sono neles! Os petistas
compraram o Ceará? Apague a luz! Os petistas
querem calar a imprensa? Cortina black-out!
Ninguém me tira da cama. Quero hibernar até
o fim do inverno petista. Sou o Zé Colméia do
antilulismo"
– O Diogo está dormindo.
Quem me telefonou nas últimas semanas ouviu essa frase. Tenho dormido muito. Durmo antes do almoço. Durmo depois do almoço. Cochilo meia hora no fim da tarde. Durmo profundamente a noite toda.
A idéia é transcorrer os quatro anos do segundo mandato lulista na cama. A lógica é simples: uma hora a mais de sono significa uma hora a menos de Lula. Minha resposta particular ao petismo é a narcolepsia. No primeiro mandato, antagonizei o regime com um monte de palavras, um monte de artigos, um monte de denúncias. No segundo mandato, pretendo trocar o teclado do computador pelo pijama, o discurso inflamado pelo zunido do aparelho de ar refrigerado, os perdigotos coléricos pelo fiozinho de baba escorrendo delicadamente pelo canto da boca.
A partir de agora, meu lema é oposição REM. Os petistas roubaram? Sono neles! Os petistas compraram o Ceará? Apague a luz! Os petistas querem calar a imprensa? Cortina black-out! Os petistas entraram com mais um processo contra mim? Zzzzzzz! Ninguém me tira da cama. Ninguém me faz abrir os olhos. Quero hibernar até o fim do inverno petista. Sou o Zé Colméia do antilulismo.
O sono natural é o melhor de todos, o mais nobre, o mais elevado. Por maior que seja meu empenho, no entanto, nem sempre é possível obtê-lo. No ataque morfético contra o petismo, todas as armas devem ser admitidas. Vale o sono natural, mas vale também o sono induzido. O maior aliado do oposicionismo comatoso é um criado-mudo abarrotado de hipnóticos e de ansiolíticos. O que importa é o resultado. O que importa é conseguir dormir pelo maior número de horas, seja durante o dia, seja durante a noite, a despeito da zoeira lulista, da britadeira lulista, da sanfona lulista.
Grandes figuras do passado resistiram às arbitrariedades dos governos com um comportamento passivo. Escolheram enfrentar a violência com a não-violência. A agressão com a não-agressão. Meu novo modelo é esse. Durmo. Durmo o tempo inteiro. Durmo em todas as circunstâncias. Tornei-me o Mahatma Gandhi do Dormonid.
Nas últimas semanas, o Brasil revelou toda a sua desavergonhada vagabundice. Um depois do outro, os fatos mostraram como somos ordinários, como somos baratos, como somos atrasados. Os mensaleiros reeleitos. O acidente da Gol. Os perigos do tráfego aéreo. A paralisia dos aeroportos. O aumento do salário mínimo. O aumento do Judiciário. O aumento dos deputados e dos senadores. A barganha por cargos. Arlindo Chinaglia. Aldo Rebelo. Os atentados no Rio de Janeiro. A incapacidade de reagir contra os criminosos. Os mortos em enchentes. Os desastres ambientais.
Isso tudo dá sono. O terceiro-mundismo dá sono. O bananismo dá sono. Quando sinto sono, eu durmo. Pode telefonar para minha casa a qualquer hora do dia. Quem atender dirá:
– O Diogo está dormindo. E pediu para ser acordado só daqui a quatro anos.