Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, outubro 03, 2005

IGOR GIELOW Aberração

folha de s paulo
BRASÍLIA
- O trem fantasma da miasmática política brasileira não pára. Sempre há um monstro novo, uma assombração para assustar o incauto na próxima curva. A novidade é o tal partido do bispo, o PMR, que colocou a Igreja Universal na Vice-Presidência do Brasil e uniu gente tão díspar como Marcelo Crivella e o ideólogo-à-busca-de-um-líder Mangabeira Unger. Nada contra a fé das pessoas, que é uma questão de foro íntimo -se o sujeito quer cultuar, digamos, valises espaçosas, problema dele. Mas partido com raiz religiosa tão explícita, ainda que seus fundadores prometam laicismo, é aberração. Não estamos em Israel ou no Paquistão, onde partidos religiosos são fenômenos sociais compreensíveis. Isso para não falar na ficha corrida da Universal, volta e meia enrolada com a Receita. Alencar saiu de um PL arrasado pelo "mensalão" para cair no colo de gente que foi presa com malas de dinheiro. Edificante. A esperança é que, como não são "valores cristãos" que unem os integrantes do PMR, talvez sejamos poupados da defesa do criacionismo em lei, exorcismos de homossexuais e afins. Ou não, mas o fato é que há um grande mercado para essa junção entre religiosidade e política popularescas, como Garotinho atesta. Para adicionar ironia, o partido deve se rebatizar como Republicano, quando um dos legados da Revolução Francesa foi separar de vez igreja e Estado no imaginário político ocidental. Mas aqui não é bem o Ocidente. É o país do "mensalão".

E o Itamaraty conseguiu de novo. Será que em algum momento Lula, Celso Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia cairão em si? Quando verão que o Brasil não é a estrela da nova geografia econômica mundial, que não pontifica as "nações sul-americanas". Só na sexta-feira, tomou um coice econômico dos chineses e outro político do caudilho petrolífero que mais gosta de adular, Hugo Chávez. Mas a retórica segue triunfalista. É de assustar.

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