Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 16, 2005

EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Um cenário melhor


Indiferente à evolução da crise política, a produção industrial vem mantendo um firme crescimento nos últimos meses. Mesmo assim, irritado com a política monetária, cujo abrandamento considera lento demais, e com a valorização do real, que considera excessiva - e também assustado com a evolução da crise do governo Lula e de seu partido, apesar da resistência a ela demonstrada pela atividade produtiva -, o empresariado demonstrava pessimismo sempre que indagado sobre as perspectivas da economia. Talvez convencido da resistência e do vigor do organismo econômico, ele começa a mostrar um ânimo diferente. Já consegue ver um cenário melhor.

Realizada no início deste mês, a pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que comporá sua próxima Sondagem Trimestral da Indústria de Transformação constatou, pela primeira vez desde outubro do ano passado, uma melhora na avaliação das indústrias a respeito do ambiente econômico e das perspectivas para o futuro próximo. Nas entrevistas realizadas no início de outubro com dirigentes de 417 empresas industriais de todo o País, cresceu, em relação à pesquisa anterior, realizada em junho, o número dos que afirmam ter melhorado a situação dos estoques e fazem previsões de crescimento do número de empregados e da demanda interna.

Desde outubro de 2004, a análise do empresariado sobre a situação presente vinha se deteriorando, qualquer que fosse o quesito analisado (nível de demanda, nível de estoques e situação dos negócios). Embora ainda registre um saldo muito baixo de respostas positivas, que mostra insatisfação com o ambiente para os negócios, a pesquisa realizada há poucos dias pela FGV pelo menos constatou uma quebra na tendência de deterioração.

Com relação às previsões para os próximos meses, o ânimo do empresariado não é dos melhores - mas, também nesse caso, o quadro parou de piorar; na verdade, em média os prognósticos não são diferentes dos que eram feitos por esses mesmos empresários em anos anteriores, como 2000 ou 2003. A despeito da prevalência, ainda, de vários fatores negativos - crise política, juros altos, dólar desvalorizado -, há razões muito objetivas para sustentar essa mudança, ainda incipiente, no humor do empresariado. A atividade econômica cresceu no segundo trimestre deste ano (último dado disponível) a um ritmo comparável ao do ano passado. O PIB cresceu 1,4% em relação ao trimestre anterior, puxado justamente pela produção industrial, que aumentou 3,0%. Em relação a igual trimestre do ano passado, o crescimento do PIB foi de 3,4%.

No terceiro trimestre, vários sinais de acomodação da produção industrial foram constatados. Era natural que, depois dos surpreendentes resultados apresentados desde meados de 2004, em algum momento o ritmo de crescimento começasse a arrefecer.

Mas não é uma freada forte o bastante para reverter as projeções para o desempenho da economia brasileira - e da indústria, em particular - em 2005. Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reviu de 2,8% para 3,5% sua projeção para o crescimento do PIB neste ano. Mesmo revista, a projeção é considerada conservadora por alguns economistas.

A contínua expansão do crédito deve manter aquecida a demanda por bens duráveis, que impulsionaram a atividade industrial na primeira metade deste ano. O crescimento da massa salarial, decorrente do aumento do nível de emprego, e do salário real médio, propiciado pela queda da inflação, deve estimular nos próximos meses a demanda também por bens não-duráveis e semiduráveis, em particular alimentos, vestuário e calçados, dando mais equilíbrio ao crescimento da produção industrial. É preciso destacar também que o setor de bens de capital, excetuados os destinados à agricultura, vem apresentando bom desempenho neste ano.

Mais ainda se, como se espera, o Banco Central acelerar o ritmo de redução dos juros, que está apenas nos seus passos iniciais e dará novo ânimo a empresários e consumidores. Se a crise política não atrapalhar mais do que já atrapalhou, a ainda tímida melhora do ânimo do empresariado se fortalecerá daqui para a frente.

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