Visto de lá
— Rainforest. A resposta de Ethan Bronner, subeditor de internacional do "New York Times", foi dada sem piscar. Eu tinha perguntado que assunto brasileiro interessa mais. A floresta úmida atrai atenção cada vez maior. Depois, outros assuntos foram listados, inclusive música. Na visita ao "Wall Street Journal", fiz a mesma pergunta. A Amazônia veio logo depois de reformas econômicas.
Outro ponto conjuntural de atenção foi o referendo. Lad Paul, editor-executivo do "NYT", começou uma rodada de conversas perguntando:
— Tenho uma pergunta para Míriam: se o desarmamento for aprovado, haverá um boom imobiliário em Nova York?
Eu respondi que eles já têm um boom imobiliário, sem nós. Que eu particularmente não me alegrava com isso, mas tinha certeza que o "Não" venceria. Não porque os brasileiros gostassem de atirar uns nos outros, mas porque a questão da segurança é mais complexa do que a simplificação da pergunta do referendo.
A escola de jornalismo da Universidade de Columbia prepara para os vencedores do prêmio Maria Moors Cabot uma semana inteira de atividades: debates, workshops, palestras, visitas a jornais. No meio dessas atividades fui verificando que se generaliza, como nunca, a idéia de que a América Latina está sozinha, cada vez mais esquecida pelos Estados Unidos, obsessivos em relação a homeland security . O que se teme é o espectro de algum terrorista, num avião, atravessando um prédio em plena Manhattan.
Os jornalistas do "NYT" disseram que o espaço para a América Latina estava crescendo, mas aí veio o 11 de Setembro e toda a prioridade da política externa americana voltou-se para outro lado. A imprensa foi atrás. Das janelas do elegante prédio do "Wall Street Journal" pode-se sentir mais fortemente o peso da tragédia que mudou o olhar americano. De lá se vê o ground zero , a enorme cicatriz no coração do centro financeiro. O prédio do maior jornal de finanças do mundo, com seu 1,8 milhão de exemplares diários, fica exatamente ao lado do que foi o World Trade Center. O prédio do jornal foi danificado seriamente, e teve que passar por uma reforma. Durante um ano, a redação teve que funcionar em outra sede.
Michael Allen, um dos subeditores da primeira página do "WSJ", apontou os prédios em volta do ground zero .
— A maioria dos bancos mudou para outras partes da cidade. Eles se espalharam. Aquele prédio ali hoje já é totalmente residencial. Outros estão virando residenciais.
Wall Street de mudança é um espantoso sinal dos tempos que vieram depois do 11 de Setembro. Outra cicatriz fica bem na entrada da redação do jornal financeiro: um emocionante memorial em homenagem ao jornalista morto no Paquistão, Daniel Pearl.
Num bate-papo com um jornalista americano ganhador de dois prêmios Pulitzer eu o ouvi reclamar de Bush, com o desprezo característico do nova-iorquino. Perguntei para ele como foi mesmo que os americanos elegeram duas vezes o mesmo personagem; ele disse, fatalista:
— O império está em decadência, em parte porque o cidadão que vota não tem a menor noção do poder que o país tem.
Os americanos, seja quando parecem paroquiais, seja quando parecem os donos do mundo globalizado, olham para outros pontos bem longe da América Latina.
— A China é incrível. Sempre há uma boa história da China disputando a primeira página — diz Dave Kansas, editor do Money & Investment do "WSJ".
No "NYT", Lad Paul garantiu que a América Latina está ficando mais importante para o jornal. Naquele dia mesmo havia sido publicado na página três um texto sobre o desarmamento. Na edição de domingo, dois sobre o Brasil. Os dois sobre a Amazônia. No final de um debate em Columbia, fui abordada por um jornalista que queria saber de desmatamento. Ele tinha lido uma matéria enviada por Larry Rohter, de União da Floresta, e estava impactado. Perguntou se era aquilo mesmo, eu disse que a matéria era exata. Ele quis saber: por que Lula não foi capaz de mudar isso?
Ficou claro para mim que o Brasil precisa de boas respostas e, principalmente, boas políticas sobre a Amazônia, caso queira continuar crescendo como parceiro comercial no mundo. Não é que o país precisa proteger a floresta para exportar mais. Temos as nossas, e muitas, razões para preservar a floresta, mas o fato é: a preocupação que se espalha pela imprensa americana com a violência contra a floresta vai se transformar em barreira comercial.
Fora desse assunto, o que desvia o olhar americano para os países ao sul é Hugo Chávez. "Um grande personagem", ouvi nos dois jornais que visitei. Ele controla a maior reserva de petróleo do Sul da América, afronta os Estados Unidos e eclipsou completamente a liderança de Lula.
Alguns assuntos latino-americanos passam pela imprensa americana de raspão, como o desarmamento. Outros freqüentam as páginas por confirmarem o estereótipo de exótico, como Hugo Chávez. Outros são de interesse restrito, como as crises econômicas. Alguns temas ficarão, como a triste história da floresta sendo diariamente destruída pelo nosso descaso.
Entrevista:O Estado inteligente
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