Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 21, 2005

Clóvis Rossi - Farol apagado

Clóvis Rossi - Farol apagado


Folha de S. Paulo
19/10/2005

O jornal italiano "La Repubblica" fez, talvez, o comentário mais certeiro sobre como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está sendo visto agora na Europa (ou não está sendo visto): diz que ele não é mais "o farol de luz" das esquerdas.
Na verdade, não é mais "farol" para ninguém, ao menos na Europa. Mesmo nos círculos empresariais, que continuam "iluminados" pela sua política econômica, faz-se uma cara de horror, quase de nojo, quando se fala da crise política.
O "farol" começou a se apagar antes ainda da crise. Lula foi visto, pelos dirigentes europeus e pela intelectualidade, como o mágico capaz de conciliar equilíbrio fiscal com resolução dos problemas sociais.
Era a sopa no mel para uma Europa que tem de manter orçamentos relativamente equilibrados e, ao mesmo tempo, preservar o seu estado de bem-estar social, o menos imperfeito até agora criado pelo homem, ao menos para o meu gosto.
Mesmo na América Latina, havia essa percepção. Sei, por exemplo, que o presidente chileno Ricardo Lagos disse a Lula, logo que este assumiu, que deveria, no primeiro ano, cuidar muito bem das contas públicas, de forma a reduzir o risco-país, para depois poder investir no social.
Hoje, Lagos espanta-se ao ver que Lula manteve superávit fiscal brutal não no primeiro ano, mas em todos os seus quase três anos de gestão, sem prestar a menor atenção na qualidade do superávit. Ou, como disse ontem Luís Nassif, "pouco importa o "como", mas, sim,o "quanto" se consegue de superávit".
Quando pipocam os estudos mostrando que a miséria e a desigualdade praticamente não foram tocadas no governo Lula, quando as percepções sobre corrupção também não mudam, o "farol" se apaga.
"La Repubblica" acrescenta que Lula tem um ano para se recuperar. Pode ser até que se reeleja, mas o fará como mais um, não como "farol". Por absoluta falta de idéias que iluminem o que quer que seja.

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