Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 23, 2005

CLÓVIS ROSSI Patente de corso


  fsp
SÃO PAULO - Saiu escondidinho, nesta Folha, a mais recente e escandalosa prova de que o mundo político brasileiro partiu para a mais completa esculhambação.
Refiro-me à absolvição dos deputados estaduais de Rondônia, flagrados em vídeo gravado pelo governador quando tentavam chantageá-lo em troca de apoio na Assembléia. Crime comprovado. Uma deputada, aliás, chega a dizer ao governador que ele não iria mudar o mundo, em cena explícita de cinismo e despudor.
Não obstante, foram todos absolvidos. Mas seria injusto culpar apenas os deputados de Rondônia. Afinal, em um país em que o próprio presidente da República, sob o foco permanente dos holofotes, se mostra leniente com o caixa dois, como imaginar que deputados de um Estado remoto se preocupem com o resgate da moralidade pública?
O estado de decomposição das instituições chegou a tal ponto que os senadores do PT resolveram assinar documento em que se comprometem a só usar dinheiro limpo nas próximas campanhas eleitorais. Equivale a dizer: doravante, seremos honestos, como se honestidade precisasse de atestado e não fosse ou devesse ser característica fundadora da atividade pública.
Apesar do documento assinado, os senadores do PT não mexem um dedinho para afastar os seus colegas deputados pilhados no uso do caixa dois (o crime já comprovado, fora outros que caixa dois costuma esconder).
Não devem considerar a honestidade um bem tão importante, a não ser para os outros, dos quais viviam cobrando ética e limpeza.
É verdade que não foi o PT que inventou a corrupção. O mundo político brasileiro sempre foi podre. Mais ou menos, é uma questão de percepção, como tal sujeita a interpretações pessoais.
O horror está dado pelo fato de que, no reinado do partido que se dizia imaculado e puro, políticos corruptos adquiram patente de corso, do que dá prova o caso de Rondônia.

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