Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 15, 2005

EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO FALTARAM RECURSOS

 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está errado ao dizer que não faltou dinheiro de seu governo para o combate à febre aftosa. A afronta à inteligência que emana de suas declarações, dadas em Portugal, só pode ser associada a uma nova manobra diversionista para tentar afastar a sua responsabilidade política no lamentável episódio que já bloqueia parcela importante das exportações de carne bovina brasileira.
Os números não mentem. Dos R$ 35 milhões previstos no Orçamento de 2005 para o programa federal de erradicação da febre aftosa, apenas 1,6% (R$ 556 mil) foi gasto até o dia 12 de outubro -menos de três meses, portanto, para o final do ano. Outros R$ 10 milhões que foram desembolsados correspondem ainda a despesas que estavam pendentes no Orçamento de 2004, o que revela o nível de prioridade, tendendo a zero, com que o governo Lula trata na prática a maior praça exportadora de carne bovina do mundo.
A previsão de gastos com defesa sanitária animal e vegetal, que era de R$ 169 milhões, foi diminuída 78% por contingenciamento determinado pela Fazenda. Após grita do ministro da Agricultura, o teto subiu para R$ 91 milhões -dos quais havia promessa firme de gasto de R$ 50 milhões até 19 de setembro. Até essa data, metade deste último montante foi gasta. Nenhum centavo seguiu na forma de convênios para Mato Grosso do Sul, onde surgiu o caso de aftosa. O Estado é o maior produtor e exportador de carne bovina e tem fronteira problemática com o Paraguai.
Se ainda é preciso prova adicional do descaso, basta notar que, enquanto o rebanho e a produção de carne brasileira cresciam para ocupar o primeiro lugar no ranking mundial, os dispêndios do governo federal com defesa sanitária decresciam.
Responsabilidades individuais no surgimento do caso em Mato Grosso do Sul existem, precisam ser apuradas, e as punições, administradas para inibir novos episódios. Mas a responsabilidade do governo federal está patente nos números. Lula não tem como fugir dela, mas, mesmo assim, insiste na estratégia de negar tudo. A quem pretende enganar?

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