Lula já fez 43 viagens ao exterior, mas
sua política externa, além de não trazer
resultados, às vezes atrapalha
Monica Weinberg
Ricardo Stuckert/PR |
O presidente Lula e Marisa em Moscou: desprezo pela geografia |
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O presidente Lula completou, na semana passada, a marca de 43 viagens internacionais realizadas desde o início do seu governo, em 2003. O fato de um chefe de Estado, à frente de um país democrático e de economia aberta como o Brasil, seguir uma rotina de viagens ao exterior é normal e saudável. Trata-se de um investimento necessário para um país interessado em se relacionar política e comercialmente com o mundo. O que chama atenção nas viagens de Lula, porém, é que elas não estão produzindo resultado nenhum – isso quando não prejudicam o Brasil. Na origem do problema, está a obsessão do presidente e de seu corpo diplomático por transformar o Brasil em uma liderança terceiro-mundista, aliada a um desprezo por fatores determinantes nas relações comerciais, como, por exemplo, a geografia. Na semana passada, a comitiva presidencial desembarcou na Rússia imbuída do sonho de atrair os russos para um novo bloco de países egressos do mundo subdesenvolvido. A idéia defendida pelo Itamaraty é que, unidos, países em desenvolvimento, como Brasil e Rússia, podem ganhar força para fazer frente ao poder dos países ricos. Ocorre que, ao se pautar por esse raciocínio, a diplomacia brasileira despreza um dado básico: o de que a Rússia está encravada entre duas potências econômicas, a Europa e a China, e, sendo assim, está muito mais interessada em fazer alianças com esses vizinhos do que com o Brasil. Comenta José Augusto Guilhon Albuquerque, especialista em relações internacionais: "A impossibilidade dessa aliança é uma questão elementar de geopolítica".
A mesma obsessão de Lula por elevar o Brasil à condição de nação-líder dos "povos oprimidos" fez com que o presidente fosse três vezes à África – continente que responde por apenas 5% das exportações brasileiras. E é ela também que faz com que ele continue insistindo em colocar-se em oposição aos Estados Unidos, que compram quatro vezes mais do Brasil do que o continente africano. No caso da viagem à China, os delírios do Itamaraty ultrapassaram a fronteira do folclórico para se tornar deletérios de fato. O Brasil prometeu que reconheceria a China como economia de mercado junto à Organização Mundial de Comércio (OMC). Em troca, esperava receber o apoio chinês para conseguir uma vaga no Conselho de Segurança da ONU. Nada funcionou como o imaginado pelo Bismarck dos trópicos, o ministro Celso Amorim. O Brasil não recebeu o voto da China na ONU e acabou perdendo a liberdade para adotar salvaguardas contra as importações chinesas. Desde então, a China já forçou a baixa do preço da soja e continuou a inundar as prateleiras brasileiras de produtos têxteis a preços não competitivos para a indústria nacional. Ou seja, alguém aí foi trouxa.
Outra das idéias fixas do Itamaraty é tornar a América do Sul – sob a liderança brasileira, é claro – um bloco com peso suficiente para enfrentar a "hegemonia dos Estados Unidos", como gosta de dizer Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais da Presidência. Desde que começou a bater nessa tecla, o governo Lula só colheu desastres. Está distanciando ainda mais o Brasil de seu principal vizinho, a Argentina, que anda irritada com a megalomania lulista, e tanto trololó verde-amarelo causou arrufos até no bufão Hugo Chávez, presidente da Venezuela. E olhe que Chávez foi agraciado com um tremendo mau negócio para o lado de cá da fronteira: o Brasil prometeu reduzir as tarifas de 90% dos produtos importados da Venezuela em troca do corte de taxas em apenas 16% das mercadorias que exporta para o país de Chávez. Além disso, enquanto Lula esgrime sua retórica de líder terceiro-mundista, os vizinhos, mais pragmáticos, votaram contrariamente a todas as candidaturas brasileiras em órgãos internacionais. Touché de los hermanos.
Mesmo diante desses resultados, Lula continua a dar demonstrações de que prefere a pirotecnia à vida real. Em sua viagem à Rússia, assinou um contrato segundo o qual o Brasil desembolsará 10 milhões de dólares para enviar, em 2006, um astronauta brasileiro à Estação Espacial Internacional, projeto liderado pela Nasa. O que Lula não diz é que a viagem do astronauta já estava prevista em um acordo firmado entre o Brasil e a Nasa em 1997. Pelo acerto, o brasileiro teria de esperar numa fila para ir ao espaço. Ou seja: Lula preferiu pagar para ter os holofotes em 2006. É a diplomacia "perdidos no espaço". E com o nosso dinheiro.