Entrevista:O Estado inteligente

domingo, outubro 16, 2005

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES Irresponsabilidade: o drama da febre aftosa

FSP
 Quanto vale a confiança no comércio internacional? Nesse campo, uma boa imagem é fator decisivo para ganhar e reter compradores. Qualidade e pontualidade são tão importantes quanto preço e crédito.
Em qualquer setor, a confiança é o principal capital das empresas e dos países. Para chegar a ela, leva tempo, requer muito trabalho, investimentos de monta e, sobretudo, uma extrema vigilância. O importador que está acostumado a receber uma determinada liga metálica com 99% de pureza fica abalado quando uma partida do produto chega com 98%. Em uma simples venda, destrói-se a confiança e a imagem.
Se isso é importante para as exportações de ligas metálicas, minério de ferro, bauxita e outros insumos que entram na manufatura de produtos industriais, o que dizer dos alimentos que são consumidos por animais e seres humanos?
O caso da febre aftosa encontrada em Mato Grosso do Sul teve um efeito devastador na imagem do Brasil. Em menos de um ano, depois do embargo da Rússia de meados de 2004, repetimos o mesmo erro.
Agora o desastre foi mais amplo. Os maiores compradores do mundo suspenderam as importações de carne bovina do Brasil. E o mesmo pode acontecer com a carne de frango se não tomarmos as medidas apropriadas para conter o vírus da gripe aviária. A Coréia do Sul e o Japão, por exemplo, já paralisaram as importações de frango da Coréia do Norte.
Agora não é hora de buscar vítimas e culpados. No desastre da aftosa há dois lados, o dos produtores e o do governo. Há produtores que negligenciam, é verdade. Mas o governo ficou desaparelhado. O presidente da Sociedade Rural Brasileira, João Sampaio Filho, protestou ao ver que, em 2005, o Ministério da Agricultura foi obrigado a reduzir de R$ 135 milhões para R$ 37 milhões os recursos para defesa sanitária. Corte gravíssimo, pois, já em 2004, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, havia eleito para 2005 a erradicação da febre aftosa como prioridade número um da sua pasta, o que dependeria de recursos e da realização de concurso para técnicos em inspeção sanitária, o que não ocorreu.
Conseqüência: derrubamos a imagem do Brasil no mercado internacional. As importações foram suspensas. Mais de US$ 3 bilhões serão perdidos e milhares de empregos vão ser destruídos. Serão necessários vários anos para reconquistar a confiança. O que dirão os russos, que, 12 meses depois, se vêem diante do mesmo problema? Dá para confiar no Brasil?
Os controladores dos recursos, por melhor que sejam suas intenções, precisam saber que, alguns deles, são essenciais e necessitam ser liberados a tempo e a hora.
A nação está indignada, mesmo porque não faltaram recursos para contratar dezenas de milhares de militantes partidários em cargos de confiança e não houve numerário para autorizar o concurso e a contratação de fiscais sanitários. Estamos pagando um preço muito alto por um grave erro político. Um castigo que os brasileiros não mereciam.

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