Augusto Nunes - O teórico da roubalheira |
Jornal do Brasil |
19/10/2005 |
Convidado a dizer o que pensava do caixa dois, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, sucumbiu a um raro acesso de sinceridade. "Isso é coisa de bandido", resumiu. Se gosta do emprego, é bom mudar de idéia. Não pensam assim o chefe de governo, o vicepresidente da República e o novo comandante do PT. Na delirante entrevista concedida em agosto na França, Lula informou que o caixa dois é, digamos, um defeito de fabricação do Brasil. "O PT só fez o que, infelizmente, todos os partidos sempre fizeram", garantiu. Há dias, em meio a comentários sobre cassáveis de estimação, José Alencar desandou de vez. "Eu penso que pode cassar, mas tem que cassar todo mundo", radicalizou o vice. "Um companheiro de partido falou: 'Lembra dos santinhos do Ildeu nas eleições de 1998?'. Os santinhos foram para a minha campanha para o Senado e não foram declarados. Então, o meu mandato tem de ser cassado". Na Câmara, ganhou apelido novo: "Presidente 2". Ricardo Berzoini decidiu que sua primeira tarefa como presidente eleito do PT seria desmatar a trilha mapeada por Lula e Alencar. Ao longo da semana, avançou a golpes de foice pelo caminho que o levaria a teorias capazes de explicar que o PT não cometeu nem pecados veniais. Incumbido de recuperar a Previdência Social, Berzoini fabricou a maior fila de aposentados do mundo. Encarregado de provar que caixa dois é bobagem, que não houve roubalheira nem casos de corrupção no governo, ampliou o acervo de tolices até perder-se na mata dos trapalhões.
Assim, o desastrado Berzoini reconheceu que nunca houve "o partido da ética na política". Também desafiou a Justiça Eleitoral ao confessar que a lei será atropelada nas eleições de 2006. Enfim, apontou a estratégia traçada pelo governo e pelo PT para safar-se do Pântano do Planalto: agarrar-se à falácia de que ninguém roubou, não há corruptos. Todos ficaram no pecado venial. "Há caixa dois com corrupção e sem corrupção", diria depois à Fo- lha o inventivo teórico da bandidagem. "Corrupção é ter um relacionamento com o empresariado que condicione contribuições de campanha a decisões administrativas". Pois foi isso que o PT fez. Isso e muito mais. O valerioduto não poderia financiar campanhas em 2003: não houve eleições, mas jorrou dinheiro. Em 2004, um PT em situação falimentar repassou milhões a parceiros de aluguel. Lavanderias de dinheiro sujo foram instaladas no exterior. Esses e outros crimes foram comprovados pelas CPIs, ou estão perto do esclarecimento. É inútil Berzoini posar de acusador. O réu é o PT.
A culpa é da vítima Segundo dados oficiais, foram liberados até terça-feira apenas R$ 555,2 mil dos R$ 35,3 milhões prometidos pelo orçamento de 2005 para ações de erradicação da doença. O ministro Roberto Rodrigues (foto) passou o ano alertando para o perigo e pedindo o dinheiro que Lula garante nunca ter faltado. "O principal responsável é o proprietário do rebanho", decidiu. Simples: a culpa é da vítima. Santo André já provocou sete silêncios Esse legado, omitido em 2002 por burocratas intimidados pelos petistas, atesta que Celso Daniel não foi vítima de um crime comum. "Antes de morrer, ele sofreu torturas brutais", contaria o legista três anos depois. "Isso só acontece quando criminosos querem informações". O prefeito de Santo André, laboratório onde se criou o esquema do mensalão, sabia muito. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, outubro 21, 2005
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