Como que atendendo, com a máxima presteza, ao "pedido" do presidente Lula, no sentido de que a CPI dos Bingos convocasse "bingueiros" para prestar depoimentos - e não outras pessoas íntimas do Planalto, cuja convocação tem causado grande irritação ao presidente; e como que para desmentir, cabalmente, declarações simultâneas do presidente Lula e auxiliares seus, a respeito da falta de foco, da "lerdeza", ou da falta de provas das falcatruas cometidas na órbita do governo e de seu partido -, a sessão da CPI dos Bingos, nessa quarta-feira, encheu as medidas: promoveu a acareação, não só entre dois, mas entre cinco bingueiros. E o resultado desse encontro foi o fortalecimento substancial dos indícios de envolvimento do PT e do governo Lula numa verdadeira rede de extorsão, destinada a "arrancar" dinheiro de empresas interessadas em manter contratos de prestação de serviço com estatais ou órgãos da administração pública federal. O confronto entre os bingueiros, suas discussões e agressões mútuas, constituíram um dos espetáculos mais deprimentes dos que já foram vistos na televisão brasileira, exibindo o verdadeiro padrão moral de pessoas que, até pouco tempo atrás, tinham cargos de confiança nos ministérios ou mantinham relações estreitas com os administradores da coisa pública. Os depoentes se chamavam, reciprocamente, de bandidos, de mentirosos, de corruptos. Falavam, claramente, dos valores das propinas, das negociações sobre o preço das "comissões", e assim por diante. Enrico Gianelli, advogado da Gtech, empresa multinacional com contrato com a Caixa Econômica Federal para a exploração de loterias; Waldomiro Diniz, ex-subchefe da Casa Civil, braço direito do ex-ministro José Dirceu; Marcelo Rovai, ex-diretor-comercial da Gtech; Carlos Cachoeira, empresário do ramo de jogos de azar; Rogério Buratti, advogado, ex-secretário de Antonio Palocci, quando este era prefeito de Ribeirão Preto. Estes são os personagens das cenas de "mundo-cão" que tiveram lugar em recinto do Poder Legislativo, dificilmente contidos pelos parlamentares condutores da CPI. Quando terminou a sessão de ontem da CPI, os "bingueiros" estavam todos com suas cartelas preenchidas de bandidagens, podendo gritar juntos: "Bingo!" Demonstrado ficou que a rede de extorsão atuou fortemente na renovação do contrato da multinacional Gtech com a CEF, para a operação da rede de loterias do País. Consumada em 8 de abril de 2003, quando a CEF já tinha tecnologia para o serviço e sua diretoria decidira absorvê-lo, a renovação propiciou para a Gtech um novo contrato de R$ 650 milhões em dois anos. A evidência de corrupção nessa renovação contratual ficou no pagamento feito ao advogado Walter Santos Neto, algum tempo depois da assinatura. Tido como um intermediário do negócio, o advogado recebeu um cheque de R$ 5 milhões, descontou-o e levou o dinheiro do banco num carro-forte. A CPI vai tentar rastrear o destino dado ao dinheiro. Na avaliação do relator da comissão, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), ficou comprovado que a renovação do contrato Gtech-CEF foi marcada pelo tráfico de influência e pela corrupção. Disse ele: "O importante é que um mentiroso desmentiu o outro e a acareação foi útil. Ficou a convicção de que o contrato envolveu propina de verdade." Já para o presidente da CPI, senador Efraim de Moraes (PFL-PB), a acareação mostrou que a Gtech, que tem por prática cooptar servidores em funções estratégicas, com poder de influência na máquina estatal, não teve dificuldade em encontrar tais colaboradores: centrou seus esforços em Waldomiro Diniz, então subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil - chefiada por José Dirceu - , e Buratti, ex-auxiliar do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, então prefeito de Ribeirão Preto. E Efraim acha que havia uma guerra entre grupos ligados ao governo, para tirar vantagem do contrato. "Pode haver um segundo e até um terceiro grupo beneficiados e vamos descobrir, pois a Gtech tinha por praxe corromper dirigentes" - disse o senador. Trata-se, pois, de se saber quantos grupos estavam em disputa nessa rede, já que provada ficou sua existência, independentemente de ter ela começado por suborno ou extorsão, ou seja, pela iniciativa de empresários ou servidores.
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Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, outubro 07, 2005
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