O governo regulamentou, enfim, o uso de salvaguardas contra a importação de produtos chineses, seguindo com grande atraso a lição de realismo dos Estados Unidos, da União Européia e também da Argentina. Não seria mais possível protelar essa decisão, depois da frustrante viagem a Pequim do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Furlan. Ele voltou ao Brasil, depois de dois dias de conversações, sem obter do governo chinês o compromisso de restrição voluntária de exportações consideradas prejudiciais à indústria brasileira. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda esperou alguns dias, mas acabou assinando nesta quarta-feira dois decretos sobre salvaguardas. Um é específico para têxteis. Outro refere-se a medidas transitórias destinadas à proteção de qualquer setor ameaçado por um grande aumento de importações de produtos fabricados na China. Se os tivesse assinado há mais tempo, seriam apenas dois instrumentos de proteção comercial, iguais a tantos outros adotados pelos governos de todo o mundo. Assinados agora, equivalem também ao reconhecimento de um enorme erro de avaliação, apontado muitas vezes, desde o ano passado, por empresários e analistas do comércio internacional. Em novembro do ano passado, durante visita do presidente chinês Hu Jintao, o governo brasileiro reconheceu a China, oficialmente, como economia de mercado. Nenhuma grande potência econômica foi tão longe. Apesar do programa de reformas adotado há uns 20 anos, a economia chinesa continua amplamente sujeita à interferência do Estado. O governo tentou justificar sua ousadia - ou imprudência, segundo os críticos - agitando uma bandeira de parceria estratégica. Os chineses continuariam comprando muito do Brasil, segundo o governo. Realizariam grandes investimentos em projetos de infra-estrutura. Além disso, seriam companheiros importantes, segundo a nova doutrina do Itamaraty, no grande confronto com as potências do Norte. A aliança com a China seria parte do grande projeto do presidente Lula de redesenhar a geografia econômica e comercial do mundo. Enfim, deveriam apoiar a pretensão brasileira de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Se tivessem o mínimo indispensável de bom senso, os formuladores da nova diplomacia brasileira teriam levado em conta as barreiras impostas pelo governo chinês à soja brasileira. Não houve, durante a visita do presidente Hu Jintao, nenhuma concessão comercial do lado chinês. As conversas entre os diplomatas brasileiros e os membros da delegação chinesa chegaram à aspereza, segundo testemunhas. Mas a luz não se acendeu. O presidente Lula e seus estrategistas internacionais continuaram agindo como se pudessem articular, com os governos da China, da Índia, da África do Sul e de outros países emergentes, um grande movimento de redenção internacional. Os investimentos não vieram. Não houve apoio à reforma do Conselho de Segurança. As importações de produtos chineses começaram a crescer de forma preocupante para alguns setores, que reclamaram proteção. Mas o governo ainda não estava preparado para oferecê-la, porque não havia regulamentado as salvaguardas. Os decretos ficaram engavetados quatro meses na Casa Civil. O mecanismo de proteção, desenhado segundo as normas da Organização Mundial do Comércio, agora está disponível e poderá ser acionado. Um dos decretos menciona o risco de desvio de comércio. Esse desvio pode ser ocasionado pela criação, num terceiro mercado, de barreiras protetoras. Uma saída para os chineses, nesse caso, seria reorientar parte de suas exportações para outros destinos, como o Brasil. Esse risco foi há muito percebido por empresários e especialistas em comércio. A indústria brasileira, advertiam, poderá acabar sendo prejudicada, indiretamente, pelas barreiras impostas a produtos chineses na Europa ou nos Estados Unidos. Há poucos dias, o chanceler Celso Amorim declarou-se decepcionado com as atitudes do governo chinês. Nada mais compreensível. Só se decepciona quem acreditou. Pelo menos esse dissabor não tiveram as pessoas sensatas.
| |
|
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
sexta-feira, outubro 07, 2005
EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Salvaguardas, enfim
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
outubro
(334)
- Farc preparam uma união pró-guerrilha
- 29/10/2005
- 27/10/2005
- Um por todos e todos por um
- Rigotto enfrenta Garotinho DORA KRAMER
- João Ubaldo Ribeiro Salvando a pátria
- 26 de outubro
- 25 de outubro
- DORA KRAMER Ao gosto do freguês
- MIRIAM LEITÃO Visto de lá
- Luiz Garcia Outros ‘nãos'
- jabor Eu sou um homem de pouca fé
- MERVAL PEREIRA A força conservadora
- Fwd: Reinventar os jornais
- Versões, fantasias e êxtase1
- Lucia Hippolito Desconfiança no Estado
- fsp JANIO DE FREITAS
- FERNANDO RODRIGUES fsp
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO A VITÓRIA DO "NÃO"
- Liebling; o glutão gracioso
- DORA KRAMER No rumo do prumo
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Queremos ser modernos
- AUGUSTO NUNES Um pouco de bom senso sempre ajuda
- Cidadania na veia HELENA CHAGAS
- FERREIRA GULLAR fsp
- Os juros e o câmbio JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
- Cresce percepção da responsabilidade de Lula na co...
- JANIO DE FREITAS
- ELIANE CANTANHÊDE Tiro no escuro
- CLÓVIS ROSSI Patente de corso
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DEBATE REBAIXADO
- veja Uma briga boa
- veja Bons, mas só de bico
- veja Resultado que é bom...
- veja Roberto Pompeu de Toledo
- VEJA André Petry
- veja Diogo Mainardi
- VEJA Tales Alvarenga
- Variações sobre o humanismo
- DORA KRAMER Magistratura participativa
- ZUENIR VENTURA A barbárie vai à escola
- Helena Chagas - Campanha à esquerda
- FERNANDO GABEIRA Aquecimento e corrupção: limites ...
- Cenários latinos GESNER OLIVEIRA
- CLÓVIS ROSSI Prefiro o Delúbio
- Lucia Hippolito Dirceu tenta de tudo
- Ilimar Franco - O PT vai à luta
- Luiz Garcia - Adeus, nepotes
- Luís Nassif - A grande lavanderia
- Helena Chagas - Quem pisca antes?
- Clóvis Rossi - Bandeira 2
- Eliane Cantanhede - De pernas para o ar
- Dora Kramer - Para a oposição, agora é Lula
- Luís Nassif - As operações de balcão
- Eliane Cantanhede - Agonia sem fim
- Dora Kramer - Sob o signo do pensar mais fácil
- Clóvis Rossi - Maluf, Saddam e o PT
- Augusto Nunes - O teórico da roubalheira
- Luís Nassif - Blogs, fóruns e intolerância
- Fernando Rodrigues - Atraso sem fim
- Clóvis Rossi - Farol apagado
- Derrota do companheiro
- O panorama visto de cima do tapume
- Material de demolição DORA KRAMER
- Considerações sobre a tolerância Por Reinaldo Azevedo
- Jarbas Passarinho Quatro meses que abalaram o País
- DORA KRAMER O pior do brasileiro
- O fracasso do favela-bairro ALI KAMEL
- Luiz Garcia Herança para os sobreviventes
- Hipocrisia tenta anular imprensa brasileira
- LUÍS NASSIF A aftosa e a gestão financeira
- Os politiqueiros JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
- ELIANE CANTANHÊDE A sorte está lançada
- CLÓVIS ROSSI A segunda confissão
- EDITORIAL DA FOLHA DE S PAULO DIFICULTAR A RENÚNCIA
- Começou a roubalheira? Ana Maria Pacheco Lopes de ...
- O homem disposto a cair de pé Lucia Hippolito
- Está crescendo a convicção de que as oposições est...
- VINICIUS TORRES FREIRE Armas, aborto, drogas etc
- FERNANDO RODRIGUES MTB é um gênio
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Gripe: negócio da...
- A triste realidade Alcides Amaral
- Pedro Doria A internet no centro do computador
- Carlos Alberto Sardenberg Lula erra no boi e na vaca
- Irmão de Celso Daniel teme ser a próxima vítima
- EDITORIAL DE O ESTADO DE S PAULO Um cenário melhor
- Reale aos 95 Celso Lafer
- dora kramer E o ‘núcleo’ virou Delúbio
- A vitória da empulhação e do PT MARCELO COELHO
- Cuidado com os reacionários! Por Reinaldo Azevedo
- A boa política de Negrão para as favelas
- JOÃO UBALDO RIBEIRO Somos todos uns trouxas
- Panorama Econômico Dois anos
- AUGUSTO NUNES O teórico da roubalheira
- FERREIRA GULLAR De arma na mão
- LUÍS NASSIF A volta da direita inculta
- Corrupção e ética universal RUBENS RICUPERO
- Crise está longe do fim, dizem analistas
- JANIO DE FREITAS Pelo sim, pelo não
- Um outro capitalismo LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
-
▼
outubro
(334)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA