Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, julho 08, 2008

Eliane Cantanhede - BOGOTÁ




Folha de S. Paulo
8/7/2008

Por que Hugo Chávez, que chamava Bush de "el diablo" e falava cobras e lagartos do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, passou de leão que ruge a gato que mia? Ele já acenou com a bandeira branca para Washington e na próxima sexta recebe Uribe na Venezuela cheio de amor para dar. Ontem, conversei com um assessor e ideólogo de Uribe, José Obdulio Gaviria, na sede do governo, a "Casa de Nariño", e ele deixou claríssimo que os dois países e seus governos estão refazendo a relação: "A luta contra o terrorismo nos fez perder muito tempo (...) e estamos retomando com todo o entusiasmo a agenda bilateral".
Soa assim: o que passou, passou, estamos partindo para outra. Do lado colombiano faz todo o sentido, porque, afinal, 17% das exportações vão para a Venezuela e não é nada pragmático sair aos tapas com um parceiro tão importante. Do lado de Chávez, o que aconteceu?
As duas principais especulações: 1) Depois de perder o referendo para se eternizar no poder, Chávez teve de amenizar o tom. 2) A tal "computadora" (em espanhol, a palavra é feminina) do líder das Farc Raúl Reyes, morto em março, contém coisas do arco-da-velha, que poderiam deixar Chávez muito mal. Ou seja, estaria havendo uma espécie de chantagem, diga-se, negociação: a Colômbia esconde o que havia de mais comprometedor contra Chávez, e ele adota um curso de boas maneiras, modera o linguajar e toca a vida.
O fato é que, aqui na Colômbia, sob o calor do resgate espetacular de Ingrid Betancourt, fica a sensação de que, se Chávez foi o fenômeno todos estes anos, quem chegou a mais de 80% de aprovação, dando de ombros para gregos, troianos e sul-americanos, foi Uribe.
Ou seja, tanto se fala na "esquerdização" da América do Sul, mas quem está bombando é Uribe, à direita, numa aliança carnal com os EUA. Resta saber a que custo, a médio e a longo prazo.

Arquivo do blog