Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, abril 12, 2007

Clóvis Rossi - Vassoura e detergente neles




Folha de S. Paulo
12/4/2007

O que resta a dizer depois de mais um ataque de políticos ao tesouro público, no caso praticado pelos vereadores paulistanos? Mesmo que houvesse algo de novo a dizer a respeito, suspeito que seria totalmente inútil.
Repito: o mundo político dissociou-se completamente da sociedade. Gira em órbita própria, cuidando de seus próprios interesses -políticos, eleitorais, econômicos, financeiros. Nada a ver com o interesse público.
Vale, de resto, para todos os níveis: deputados estaduais e federais, vereadores, senadores e também para os políticos que ocupam funções no Executivo, com raríssimas exceções.
Por isso, o que resta a dizer é para o leitor, não para os políticos.
Recebo uma boa quantidade de correspondência cujo eixo central é mais ou menos o seguinte: "Não agüento mais a bandalheira, seja, por favor, a nossa voz". Com perdão da rude franqueza, não adianta nada esse tipo de apelo.
Podemos, eu e um mundão de outros jornalistas, gritar à vontade que o efeito é mínimo. A maioria dos parlamentares se elege em currais eleitorais absolutamente impenetráveis ao clamor da mídia ou mesmo do público. Não me refiro apenas aos tradicionais currais dos grotões do Brasil, mas ao tipo de clientela política que só vota em alguém por interesse pessoal, familiar ou grupal.
Portanto, a grita da mídia ou de entidades como a Voto Consciente só pega o pequeno grupo que depende do voto informado. Num país em que 51% nem sabem o nome do papa, imagine se a maioria vai querer saber se fulano ou beltrano é ou não corrupto?
Se há alguma solução, o que é discutível, só pode ser uma: um número ponderável de eleitores fazer como fez outro dia a torcida corintiana. Invadir o estádio, com vassoura e detergente, para exorcizar a sujeira. Mexa-se, meu caro.

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