O SEGUNDO mandato de Luiz Inácio Lula da Silva começa hoje sob o signo da incógnita. Mais solitário em suas decisões, o presidente preferiu postergar medidas de montagem de seu governo para 2007. Resultado: sua futura equipe ministerial ainda não é conhecida e seu tão propalado plano para destravar a economia ainda não saiu do papel. Tempo para isso o petista teve.
Passaram-se dois meses entre a vitória nas urnas, no final de outubro, e hoje, dia da posse. Nesses 60 dias, Lula emitiu sinais contraditórios e quase nada decidiu. Afiançou mais de uma vez que não arredaria pé de seu compromisso com a austeridade fiscal. Acabou atropelando sua equipe econômica e concedeu um aumento do salário mínimo acima do planejado no Orçamento de 2007.
Confidenciou a amigos que montaria um ministério de peso, com alguns nomes incontestáveis. A sensação, nesse final de ano, é que corre o risco de ter uma equipe igual ou pior do que a atual. Poderá até perder alguns ministros que farão falta, como Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).
A despeito das dúvidas e sinalizações negativas emitidas pelo próprio presidente, Lula tem a seu favor um cenário econômico nesse recomeço de governo bem melhor que o do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.
Após a reeleição, o tucano foi obrigado a buscar socorro no FMI e obteve um crescimento do PIB de meros 0,13%. No início do segundo mandato, enfrentou uma crise cambial. O país tinha déficit com o exterior, gerava poucos empregos e a inflação voltava a subir depois de um ano domesticada.
Lula, do seu lado, encerra o primeiro mandato com uma inflação igualmente baixa, superávit nas contas externas, reservas internacionais de US$ 85 bilhões, dívida externa equacionada e um crescimento do PIB medíocre, perto de 3%, mas acima do verificado por FHC em 1998.
Enfim, o petista não tem de que se queixar. Parte de uma situação melhor para o segundo mandato.
Tem ainda a chance de singrar a nova etapa sem as nódoas dos escândalos que mancharam sua primeira fase. O risco é ele jogar o momento propício na lata do lixo com medidas paliativas, em busca da popularidade fácil.
Não é possível vaticinar, porém, o futuro do segundo mandato de Lula. É preciso aguardar os primeiros passos concretos do presidente para avaliar suas chances de êxito.
Até aqui, ele gerou muita expectativa, promoveu inúmeras rodadas de reuniões e deixou um sinal de interrogação sobre o que teremos pela frente.
Entrevista:O Estado inteligente
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