Economista concorda com câmbio flutuante sujo e metas de inflação, mas rejeita esse item da política fiscal do governo
Leandro Modé
O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, que foi ministro das Comunicações durante parte do governo Fernando Henrique Cardoso, não concorda nem discorda de seu colega Nakano. 'Estou sempre no meio. Você nunca vai achar um igual a mim no mundo.' Nesta entrevista, ele dá sua receita para a economia brasileira voltar a crescer.
Por que o Brasil cresce pouco?
Porque somos uma das economias menos competitivas do mundo. Isso ocorre por três razões. A primeira é que temos uma carga tributária muito elevada, que decorre dos nossos problemas fiscais. A segunda razão é a péssima qualidade da nossa infra-estrutura econômica: estradas, portos etc. Em terceiro lugar, temos um péssimo ambiente de negócios.
O que fazer para melhorar essas três questões?
A carga tributária resulta do nível de gasto do governo. Para isso, é preciso haver maior racionalidade. Agora, o que fazer para reduzir gasto do governo é uma coisa que você precisa estar lá para saber o que vai fazer. Precisa saber as condições políticas que vai ter. O que tem de ter é isso como norte. Na infra-estrutura, precisa abrir no orçamento um espaço para o governo voltar a investir 2,5% do PIB. Ou então, por meio de parcerias público-privadas (PPPs) e outros instrumentos, chamar a iniciativa privada. A terceira questão remete à agenda perdida, que deve estar na gaveta de alguém no Ministério da Fazenda. São as reformas microeconômicas, que o governo Lula só fez uma, a Lei de Falências um pouco mais moderna.
Concorda com o tripé câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário?
Sou a favor do câmbio flutuante sujo, como hoje, das metas de inflação, com mudanças pontuais, mas o superávit primário foi um engodo como medida de política fiscal. Prefiro superávit nominal.
E controle de capitais?
Sou contra porque não funciona. O mundo de hoje é muito permeável.
O real está sobrevalorizado?
Sim, está relacionado ao superávit comercial. A solução é crescer mais para usar os dólares para importar máquinas e componentes para tornar as empresas mais eficientes. Se não resolver esse problema, a indústria vai desaparecer.
Seu diagnóstico, em alguns pontos, é semelhante ao de Nakano.
Estou sempre no meio. Você nunca vai achar outro igual a mim no mundo. Como não tenho coisa preconcebida na cabeça, quero entender o que está acontecendo.
O senhor tem contribuído com o programa do candidato Alckmin?
Ajudei no começo, mas saí.
Por quê?
Havia muita divergência nas opiniões levadas ao candidato e eu não gosto. Meu irmão (José Roberto) tem ajudado.
O juro no Brasil é alto demais?
É, por um erro do BC. Eles não entenderam que, com a sobra de dólar, a dinâmica de inflação é outra, muito baixa.
Entrevista:O Estado inteligente
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