Tucano volta a chamar presidente de 'mentiroso' e avisa que vai manter 'estilo Mike Tyson' adotado no debate
Ana Paula Scinocca
O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, avisou ontem que vai manter até o fim da campanha o 'estilo Mike Tyson' apresentado no debate com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no domingo. 'O estilo vai ser o mesmo. É falar a verdade. Não gosto de gente que não fala a verdade, que distorce a verdade e que sacrifica os amigos para salvar a pele', disse.
Sobre as críticas de eleitores de que tanto ele quanto Lula deixaram de apresentar propostas no debate inaugural do segundo turno - transformando o programa em uma troca de acusações -, o tucano argumentou: 'A questão ética não é lateral. É substantiva, é programática.'
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, o ex-governador paulista voltou a chamar seu oponente de 'mentiroso'. Reafirmou que o PT já teve sua chance de governar o País e que Lula falta com a verdade para ganhar voto. 'O próprio presidente candidato fica colocando mentiras sem parar ao dizer que vou privatizar (a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, a Petrobrás e os Correios). Meu programa de governo tem 216 páginas e nenhuma citação, é mentira para ganhar voto', afirmou Alckmin, relembrando a 'boataria' que teria sido espalhada pelo PT para prejudicar sua campanha.
Em seguida, à saída dos estúdios da emissora, em São Paulo, reclamou do fato de os ministros de Lula não fazerem outra coisa a não ser campanha por sua reeleição. 'Os ministros só fazem campanha. É ataque e boato o dia inteiro', afirmou. Para o tucano, 'os ataques de ministros' têm como objetivo 'desviar a atenção' sobre a investigação da origem do R$ 1,75 milhão para a compra do dossiê Vedoin, com o qual petistas pretendiam ligar políticos tucanos ao escândalo dos sanguessugas.
BOLSA-FAMÍLIA
Além de desmentir que tenha intenção de privatizar empresas públicas, Alckmin também aproveitou as entrevistas que concedeu durante o dia para ressaltar que não vai pôr fim ao Bolsa-Família. A informação falsa, segundo ele, também tem sido espalhada por Lula e sua equipe.
Ao falar do programa que é carro-chefe da campanha de seu oponente, o tucano prometeu, se eleito, enviar ao Congresso um projeto de lei para que seja criada uma rede de proteção social. 'Vou mandar para que seja lei, e não objeto de medo, de tirar voto. Abaixo de determinada renda vai ser direito da família (ser beneficiada com o programa). Nada a ver com a questão social.'
CORTES
Além de repetir a estratégia de desmentir 'os boatos' espalhados pelo PT, Alckmin também passou o dia de ontem procurando pôr panos quentes na polêmica aberta pelo economista Yoshiaki Nakano, um dos formuladores de seu programa de governo.
Na terça-feira, Nakano defendeu o equilíbrio entre o juro interno e as taxas externas; um câmbio flutuante, porém administrado; controle de capitais de curto prazo e o corte de despesas correntes em 2007 da ordem de 3% do PIB (R$ 60 bilhões).
Alckmin desconversou sobre ter definido corte de gastos em seu programa de governo e negou que a polêmica possa criar o 'fator Alckmin' no mercado, a exemplo do temor com a candidatura de Lula em 2002.
'Não tem nominado 4,4%, 3,4%. O que vamos fazer é o que o Brasil precisa, uma política fiscal de melhor qualidade', anotou. Na página 16 do programa de governo de Alckmin, porém, está clara a proposta de 'criar condições para zerar o déficit nominal com corte de despesas correntes dos governos, incluindo juros, da ordem de 4,4% do PIB no decorrer do próximo mandato'.