Entrevista:O Estado inteligente

sábado, outubro 21, 2006

Show dos astros


Os avanços na exploração espacial,
obtidos com novas sondas e telescópios,
alargam o conhecimento sobre os mistérios
do universo. Ao mesmo tempo, produzem
imagens fascinantes dos planetas do
sistema solar e de regiões do cosmo
que nunca haviam sido vistas


Leoleli Camargo e Rafael Corrêa

Fotos divulgação
FÁBRICA DE ESTRELAS
Imagem do Hubble mostra a fusão das duas galáxias Antennae, que teve início há 500 milhões de anos e gerou bilhões de novas estrelas



Nunca o homem esteve tão perto de desvendar os mistérios do cosmo. As sondas espaciais são capazes mapear em detalhes o solo de Marte, a atmosfera de Vênus e os anéis de Saturno. A atual geração de telescópios, que em vez de usar somente lentes de aumento analisa os diversos tipos de luz que emana dos corpos celestes, consegue enxergar muito além dos confins do sistema solar. Graças a esses telescópios, na década passada, confirmou-se o que nos últimos 200 anos era apenas uma suposição: existem centenas de planetas próximos a estrelas fora do sistema solar. As evidências do avanço na exploração espacial costumam materializar-se em fotos deslumbrantes, mostrando galáxias, buracos negros, estrelas de nêutrons e pulsares – além de pistas sobre como ocorreu o Big Bang, a grande explosão que deu origem ao universo. Na semana passada, duas dessas fotografias de tirar o fôlego foram divulgadas. Uma delas mostra a fusão de duas galáxias e o conseqüente nascimento de bilhões de novas estrelas. A outra mostra Andrômeda, a galáxia mais próxima da Via Láctea – os cientistas acabam de descobrir que seu formato é resultado de um choque com um conjunto de estrelas ocorrido há 210 milhões de anos.

FACE REJUVENESCIDA
Elevação no solo de Marte que se assemelha a um rosto: a foto à esquerda foi tirada pela sonda Viking, em 1976. Trinta anos depois, a sonda Mars Express mostra a mesma paisagem (foto à direita) com muito maior riqueza de detalhes

A curiosidade com que o homem sempre fitou o céu, e sua pertinácia em descobrir o que há por trás dos astros visíveis, faz da astronomia a mais antiga das ciências. "Algumas das questões mais fundamentais, inclusive o surgimento da vida na Terra, esperam por respostas no espaço", disse a VEJA o americano Andrew Fraknoi, astrônomo do Foothill College, faculdade na Califórnia que abriga um observatório espacial. No início do século XVI, quando Copérnico descobriu que a Terra gira em torno do Sol, e não o contrário, todos os conceitos astronômicos foram revistos. Hoje, ao olhar para o cosmo, o homem busca respostas para outras questões. A primeira delas é: como surgiu o universo? Um grande avanço para elucidá-la foi dado pelo observatório espacial WMAP, que permitiu aos astrônomos fixar a idade do universo em 13,7 bilhões de anos. Ao estudar a radiação formada por microondas, um tipo de luz que remonta a menos de 1 milhão de anos depois do Big Bang, a WMAP possibilitou aos cientistas criar uma "fotografia" de quando o universo era ainda um bebê. Atualmente, avança-se no sentido de esclarecer o que houve nas diversas etapas da evolução do Big Bang para chegar ao universo como o conhecemos hoje. "O homem olha para o espaço em busca da própria identidade. Ele precisa se situar, saber de onde vem, onde está e para onde vai", diz o astrofísico João Steiner, diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.

TROMBADA NO ESPAÇO
Imagem da galáxia Andrômeda. Os astrônomos descobriram que, há 210 milhões de anos, ela colidiu violentamente com sua vizinha, a galáxia M32. À direita, nuvens de poeira cósmica

A segunda pergunta que os cientistas fazem ao olhar para o céu é: haverá vida fora da Terra? "Com a descoberta de planetas fora de nosso sistema solar, torna-se cada vez mais aceitável a idéia de existirem formas primitivas de vida no espaço", disse a VEJA Avi Loeb, astrofísico da Universidade Harvard. Estudos indicam que apenas na Via Láctea pode haver 1 trilhão de planetas e que, fora dela, as outras galáxias se contam em centenas de bilhões. Os cientistas acham que, diante desses números que mostram o tamanho impressionante do universo, é possível haver planetas com dióxido de carbono, água e ozônio, elementos que possibilitariam o surgimento da vida.

OS GASES CELESTES
Na estrela WR124, da constelação de Sagitário (à esq.), as temperaturas chegam a 50 000 graus. À direita, o Hubble registra o nascimento de estrelas na nebulosa da Águia, a partir de colunas de gases interestelares. Dentro das colunas, os gases são tão densos que entram em colapso, formando as estrelas que crescem ao absorver a massa a sua volta

A terceira questão que ocupa os astrônomos atualmente é a possibilidade de a raça humana vir a habitar outros astros. O aumento populacional e a degradação acelerada do meio ambiente na Terra são dois dos motivos que apontam para a necessidade, no futuro, de estabelecer colônias na Lua ou em Marte. A criação de uma base na Lua já não é ficção científica: até 2020, dentro do programa Constellation, a Nasa pretende enviar uma missão tripulada ao satélite para assentar as bases de um laboratório de pesquisas. Outro motivo que pode obrigar a migração da humanidade para outros astros é a ocorrência de uma catástrofe – o choque de um asteróide com a Terra, por exemplo. Para prevenirem um desastre como esse, os japoneses lançaram há um ano uma sonda para estudar os asteróides . Já os americanos estão construindo, no Havaí, o observatório Pan-Starrs, que vai vasculhar o sistema solar em busca de possíveis objetos que estejam em rota de colisão com a Terra. Será um avanço na aventura cada vez mais emocionante da exploração do cosmo.

TORRE MONUMENTAL
Nebulosa da Águia: a torre que aparece na imagem é formada por gases e poeira. Sua altura chega a 91 trilhões de quilômetros

ENCONTRO DE GALÁXIAS
Perto da constelação de Cão Maior, duas galáxias em forma de espiral cruzam seus caminhos

CURVAS PLANETÁRIAS
Os anéis de Saturno, compostos basicamente de gelo, registrados pela sonda Cassini em suas cores naturais

O PÓS-BIG BANG
Dados obtidos por telescópios, sobrepostos, mostram como era o universo ainda jovem, com apenas 1 bilhão de anos

O PERIGO QUE VEM DO ESPAÇO

AMONTOADO DE PARTÍCULAS
O asteróide Itokawa: melhor não destruí-lo com uma bomba

Os filmes de Hollywood gostam de mostrar asteróides gigantes que se chocam com a Terra e fazem um estrago danado – dois exemplos recentes são Armageddon e Impacto Profundo. Na vida real, sabe-se que a Terra já foi bombardeada por asteróides de grandes dimensões inúmeras vezes – numa delas, há 65 milhões de anos, os dinossauros foram extintos – e é provável que esse tipo de catástrofe ocorra de novo, só não se sabe quando. Há um ano, a Jaxa, agência espacial japonesa, enviou a nave Hayabusa para estudar o asteróide Itokawa, que passa a 50 milhões de quilômetros da Terra em sua órbita em torno do Sol. O objetivo era estudar a composição do Itokawa e, assim, determinar a melhor forma de interceptar um corpo celeste desse tipo caso ele entre em rota de colisão com o planeta.

A nave japonesa chegou a 3 quilômetros do asteróide e fez 1 500 fotos. Descobriu-se que o Itokawa é um asteróide do tipo S, ou seja, não é um pedaço de rocha sólido, mas um amontoado poroso de partículas rochosas que permanecem unidas devido à força gravitacional. A maneira irregular como essas partículas se juntam dá a ele um formato peculiar, como o de duas batatas grudadas. A idéia mais difundida entre os cientistas para interceptar um asteróide que se dirija para a Terra é alvejá-lo no espaço com uma bomba potente. Isso faria com que ele se desviasse de sua órbita. No caso do Itokawa e de muitos outros corpos semelhantes a ele, o tiro sairia pela culatra. A bomba pulverizaria o asteróide em pedaços menores, que continuariam na mesma órbita. Nesse caso, a Terra seria bombardeada por vários objetos de alto poder destrutivo em vez de apenas um.

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