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quarta-feira, outubro 04, 2006

Na PF, Valdebran desmente versão de Lacerda sobre dinheiro do dossiê

Na PF, Valdebran desmente versão de Lacerda sobre dinheiro do dossiê

Publicada em 03/10/2006 às 21h50m

Bernardo de la Peña, enviado especial O GloboAgência Câmara

CUIABÁ - O empresário Valdebran Padilha confirmou em depoimento na Polícia Federal nesta terça-feira que a mala que aparece nas imagens do circuito interno de televisão do hotel, sendo carregada pelo ex-coordenador da campanha do senador Aloízio Mercadante ao governo paulista, Hamilton Lacerda, é a mesma na qual Gedimar Passos, recebeu o dinheiro. A informação foi dada após o depoimento de Valdebran, pelo advogado dele, Luiz Antonio Lourenço.

Valdebran e Gedimar foram presos em um hotel de São Paulo com R$1,7 milhão, que seriam entregue ao empresário Luiz Antonio Vedoin, acusado de chefiar a máfia das ambulâncias, em troca do dossiê contra políticos tucanos . Vedoin e seu pai, Darci, ainda estão prestando depoimento na PF.

A versão de Valdebran desmente a que foi apresentada por Lacerda na PF em São Paulo. O ex-assessor de Mercadante havia dito que não levou dinheiro aos encontros que teve com Gedimar no hotel.

- Ele confirmou que a mala que aparece na foto com o Hamilton era a mala do dinheiro que estava com Gedimar - afirmou Lourenço.

O advogado negou, no entanto, que Valdebran conhecesse Lacerda. Segundo ele, o empresário foi ao hotel apenas para fiscalizar a entrega do dinheiro a pedido de Vedoin. Valdebran, de acordo com o advogado, disse ter recebido de Gedimar a parte do dinheiro que foi apreendido com ele. O advogado negou ainda que seu cliente tenha proposto ao PT ou à família Vedoin a negociação do dossiê.

- Não foi ele quem ofereceu ao PT o dossiê. Já estava combinado – disse Lourenço.

Segundo o advogado, Gedimar mostrou a mala com o dinheiro a Valdebran, na tarde do dia 14, porque seu cliente já estava impaciente e queria ir embora, pois não poderia ficar esperando pela negociação entre os Vedoin e o PT.

A versão de Valdebran é diferente da apresentada pelo ex-chefe do serviço de inteligência do PT, Jorge Lorenzetti e da apresenta pelo empresário Luiz Antonio Vedoin. Pela versão do primeiro, Valdebran teria oferecido ao PT a oportunidade de comprar documentos que supostamente comprometeriam os tucanos. Já Vedoin, em depoimento à PF, disse que Valdebran apresentou o negócio com o dossiê como oportunidade de lhe pagar uma dívida que tinha com a sua empresa.

- Isso, ele (Vedoin) é quem vai ter de explicar - desafiou Lourenço.

Os empresários Darci e Luiz Antônio Vedoin, donos da Planam, também prestaram depoimento na sede da Superintendência da PF em Cuiabá nesta terça-feira. Eles foram interrogados por quatro delegados que fazem parte da força-tarefa montada pela PF para cuidar das investigações da máfia dos sanguessugas.

Até o fim da semana, os Vedoin devem ser ouvidos em 33 inquéritos contra parlamentares. Na semana passada, eles já haviam sido ouvidos em outros 24 inquéritos contra deputados e senadores. O empresário Ronildo Medeiros, sócio dos Vedoin, deve ser ouvido também nesta semana em 30 inquéritos.

CPI das Sanguessugas pode viajar em busca de dados

De acordo com a PF, no total foram instaurados 117 inquéritos contra parlamentares e prefeitos. Os Vedoin estão sendo ouvidos primeiro nos inquéritos que estão no Supremo porque os documentos referentes às investigações contra os prefeitos, que tramitam nos respectivos tribunais regionais por conta do foro privilegiado das autoridades, foram enviados à Justiça com pedido de prorrogação por mais 30 dias.

De acordo com a PF, depois de ouvir os Vedoin em cada um dos 87 inqúeritos, os nove delegados que atuam na força-tarefa devem começar a ouvir os parlamentares acusados de apresentar emendas que beneficiaram o esquema de venda de ambulâncias superfaturadas organizado por Darci e Luiz Antônio Vedoin.

Integrantes da CPI das Sanguessugas poderão ir a Cuiabá e a São Paulo para conseguir, na Polícia Federal dessas cidades, mais informações sobre as investigações do dossiê que ligaria candidatos do PSDB à "máfia das sanguessugas". A decisão sobre a viagem da comitiva deverá ser definida na reunião da CPI marcada para a manhã desta quarta-feira.

O dossiê, que seria vendido a pessoas ligadas ao PT por R$ 1,7 milhão, foi entregue pela Polícia Federal à comissão no dia 22 de setembro. O presidente da comissão, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), disse que apresentará o dossiê ao colegiado e que vai sugerir ao relator da CPI, senador Amir Lando (PMDB-RO), a criação de sub-relatoria para analisar o conteúdo do material e o suposto envolvimento de pessoas do PT na tentativa de compra.

Nesta quarta-feira, os trabalhos da CPI das Sanguessugas começarão com reunião administrativa. Em seguida, os parlamentares examinarão uma série de requerimentos, entre eles os que pedem a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico de várias pessoas e os que sugerem a convocação de depoentes.

Por proposta do deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), integrante da comissão, os ex-ministros da Saúde Humberto Costa e Saraiva Felipe, do Governo Lula, devem ser convocados a prestar esclarecimentos sobre fatos relacionados ao esquema de compra superfaturada de ambulâncias ocorridos em suas gestões. Também o ex-ministro da Saúde e governador eleito de São Paulo, o tucano José Serra, poderá ser convocado, de acordo com requerimento do deputado Dr. Rosinha (PT-PR). Na opinião do presidente da CPI, a convocação dos ex-ministros, depois do episódio do dossiê, tornou-se necessária.

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