Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, outubro 03, 2006

Lula muda da água para o refresco

Lula muda da água para o refresco
03.10, 16h28
por Villas-Bôas Corrêa, do site NoMínimo

A especulação está solta na praça e buscará todos os caminhos e atalhos para tentar adivinhar o resultado do segundo turno. Todos os esforços são bem-vindos e respeitáveis, como estimulantes da mobilização popular. E nada detém a coceira dos adivinhos amadores e dos profissionais dos institutos de pesquisas.

Na primeira fase curta, nervosa e intensa da caça às alianças no mercado de partidos e lideranças disponíveis, tenta-se a costura dos acordos óbvios e avança-se nas áreas duvidosas. E, no plano mais alto das investigações da imprensa e dos teóricos especialistas no ramo, cada episódio das rixas estaduais, das vitórias e derrotas é virado e revirado pelo avesso para a antecipação das suas prováveis influências na decisão do mano a mano das urnas de 29 próximo, daqui a exatos 25 dias.

A vitória do tucano Geraldo Alckmin, com as achegas das votações de Heloísa Helena, Cristovam Buarque e outros menos votados que bloquearam a disparada do candidato-presidente Lula à maioria absoluta, liquidando a fatura no primeiro turno, aconselha doses duplas de cautela nos palpites dos ansiosos e tripla aos advertidos pesquisadores especializados.

Sem nenhuma pretensão de ensinar reza aos vigários crentes e ateus, apenas lembro as experiências recentes de decisões no segundo turno, como na eleição do novo senador alagoano Fernando Collor de Melo, em 1990, e na eleição de Lula, em 2002, quando derrotou o tucano José Serra, que acaba de ser eleito governador de São Paulo.

Lula perdeu uma eleição quando tinha todas as condições para ganhar, com o catastrófico desempenho no debate, no mano a mano do segundo turno, contra Collor. Lição exemplar: foi melhor no primeiro debate e disparou nas pesquisas; meteu os pés pelas mãos no segundo, e entrou pelo encanamento.

Na quarta tentativa que o levou ao Palácio do Planalto foi carregado pela militância do PT, nos bons tempos em que a bandeira vermelha arrastava multidões e a boca de urna virava votos aos milhões pelo Brasil. Mas, Lula participou das rodadas de debates no primeiro e no segundo turno com atuações sofríveis, que não resvalaram no seu favoritismo absoluto. Marchou para a decisão pisando firme, com a eleição garantida pela vantagem carimbada pelas pesquisas.

Agora, o quadro é outro. Tudo é importante e pode fazer a diferença numa corrida de alta velocidade, na reta de três semanas. Do alinhavo de apoios dos milionários de votos estaduais às próximas etapas da novela do R$ 1,75 milhão apreendido com petistas para a compra do dossiê contra o candidato tucano José Serra, com rebate no candidato Geraldo Alckmin.

O governo está acuado pela aflitiva urgência na apuração da origem da dinheirama e da identificação do articulador da marota e desastrada armação, antes que a exposição das fotos com as pilhas de notas novinhas, saídas da forma, de reais e de dólares complete o desmonte da imagem popular do benfeitor dos pobres e generoso distribuidor de milhões de Bolsas Família.

Não falta munição ao candidato oposicionista para manter a ofensiva na série debates que devem ser promovidas por todas as emissoras de televisão. E se o estilo de Alckmin é mais para a amenidade dos temas administrativos, nos últimos dias da campanha, sob pressão e cobrança enérgica dos aliados, ganhou a agressividade que impulsionou a ascensão vitoriosa para o segundo turno.

Tudo é importante e qualquer escorregão pode mudar o voto de milhares, de milhões. Certo mesmo é a poderosa influência das previsíveis polêmicas na decisão do eleitor.

A definição afunila para as três semanas de crescente mobilização popular. Debate mano a mano é a fórmula perfeita para sacudir o eleitor, despertá-lo da indiferença, curar decepções, espanar a poeira das muitas e justas frustrações dos escândalos da corrupção, do mensalão, do caixa dois, das ambulâncias superfaturadas das trampas dos sanguessugas, da decadência moral do Congresso, doente terminal da praga ética.

A mudança da tática escapista, faltando aos debates ao alto preço da exibição da cadeira vazia e nas negativas a falar com a imprensa é a mais límpida evidência do reconhecimento do erro. Horas amarguradas na revisão dos equívocos e na cobrança das falhas cabeludas de assessores diretos operaram o milagre da ressurreição do candidato risonho, bem-humorado, solícito a ponto de convidar a imprensa para a primeira entrevista coletiva com direito a perguntas dos jornalistas em três anos, nove meses e dois dias de mandato.

O fantasma da derrota apavora o mais destemido dos mortais.

E leva o candidato ao desatino.

Arquivo do blog