Panorama Econômico |
O Globo |
20/10/2006 |
O Brasil é um país com temperaturas econômicas diferentes, e foi isso que fez a divisão regional do voto. A alta acumulada das vendas do varejo nos últimos 12 meses no Nordeste chega a 14,3%, e a 16,8% no Norte, enquanto no Sul do país as vendas estão em 0,07%. Nas regiões onde o consumo mais cresceu, o fenômeno está descolado da produção, o que indica um consumo financiado pelos programas como o Bolsa Família, e não por crescimento econômico. Os gráficos abaixo, preparados pela MB Associados, explicam perfeitamente o fenômeno econômico do voto no Brasil. As pessoas estão mais satisfeitas com a economia no Norte e no Nordeste porque há mais consumo; no Sul, a explicação da reação ao governo se vê nas vendas estagnadas no varejo. O que preocupa é que não é um aumento de consumo que seja sustentável, porque ele não decorre do círculo virtuoso que o crescimento produz. Quando se vê a produção industrial, ela foi mais alta no Norte, mas já caiu e, no Nordeste e no Sudeste, está mais ou menos no mesmo nível. No Centro-Oeste, está mais baixa e, no Sul, é um retrato de recessão: queda de 3,4%. O que está movimentando o comércio do Nordeste e do Norte é a transferência de recursos públicos através de programas sociais como o Bolsa Família. Aqui já escrevi a favor de programas de transferência de renda direta para os mais pobres, como as diversas boas experiências do Bolsa Escola tocadas por partidos como PSDB, PT e PSB em Campinas, Brasília e Belo Horizonte. O Fome Zero, que tinha um desenho antigo, foi um fracasso. Foi abandonado pelo bem-sucedido Bolsa Família. O problema é que o programa, ao crescer sem controle, perdeu seu principal atrativo que é o de transformar a ajuda de hoje na construção do futuro, através das condicionalidades. E pior: agora virou um instrumento eleitoreiro, o que o abastarda e o transforma em mais um desses programas assistencialistas com os quais a elite política do Brasil sempre manipulou os pobres. Feita a ressalva, volte-se aos dados econômicos dos gráficos abaixo. Eles explicam a diferença de temperatura econômica, mas também mostram que o consumo do Nordeste e do Norte não é resultado de um círculo virtuoso que vá do aumento da produção, criação de mais emprego e renda e elevação do consumo que leva a mais produção. Não é resultado do crescimento, como mostra o gráfico que compara, no Nordeste, produção industrial com vendas no varejo. Isso pode indicar que é uma alegria efêmera a do consumidor do Nordeste, e que o ritmo de crescimento não será mantido, porque o programa já está esgotando seus efeitos econômicos. O consumo mudou de patamar, mas não continuará crescendo. Por enquanto, como me disse uma diretora comercial de uma companhia cujo negócio tem ramificações em todo o país, as empresas têm sentido que: - As filiais do Nordeste estão batendo recorde de vendas, e as do Sul, que sempre puxaram o crescimento, não conseguem cumprir as metas. Foi por isso que o voto se dividiu nestas eleições: o Nordeste e o Norte inteiramente governistas, e o Sul mais oposicionista. No Centro-Oeste, que erroneamente os institutos de pesquisa misturam com o Norte, a reação ao governo também tem explicação nos dados econômicos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, outubro 20, 2006
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