Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, outubro 20, 2006

GEDIMAR: FREUD DEU ORDEM PARA PAGAR R$1,7 MILHÃO PELO DOSSIÊ



O Globo
20/10/2006

Petista reafirmou a acusação três dias após ser preso, e só depois voltou atrás

O auto de acareação realizada dia 18 de setembro entre Gedimar Passos, ex-policial federal, e Freud Godoy, ex-assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, demonstra que, diferentemente do divulgado até agora, Gedimar apontou Freud como a pessoa que lhe deu a missão de realizar o pagamento de R$1,7 milhão à família Vedoin.

A acareação entre os dois foi feita três dias depois de o ex-policial ser preso no Hotel Ibis, em São Paulo, com o dinheiro que seria utilizado para a compra de um dossiê contra os tucanos. O advogado de Freud, Augusto Arruda Botelho, declarou à imprensa naquele dia que Gedimar havia permanecido em silêncio.

-- Gedimar ficou em silêncio, usando o direito de permanecer calado durante a acareação, alegando que os advogados dele não tiveram acesso, até o momento, ao inquérito instalado pela PF em Cuiabá - disse Botelho na ocasião, em entrevista.

Advogado deu outra versão

Mas não foi bem isso o que aconteceu. No auto da acareação, conduzida pela delegada Marcia Jorgete Di Lorenzo, está escrito textualmente: "Indagado sobre quem do PT deu ao declarante (Gedimar) a missão de realizar o pagamento do dinheiro aos emissários dos Vedoin em troca das informações pactuadas, disse que foi a mando de uma pessoa de nome Froude ou Freud, que segundo consta tem uma empresa de segurança no Rio de Janeiro/SP, que não sabe se o dito cujo é pessoa influente ou não dentro do PT".

Freud, de acordo com o auto de acareação, negou qualquer participação: "Questionado sobre ter exercido alguma influência para que a pessoa de Gedimar realizasse pagamento de dinheiro a emissários da família Vedoin em troca de informações, respondeu que não teve qualquer influência, desconhecendo a negociação noticiada por Gedimar."

Declaração antes do silêncio

Somente depois dessas afirmações de Freud é que o ex-policial decidiu permanecer em silêncio, alegando que seus advogados não tiveram acesso aos autos.

Depois dessa acareação, em que inicialmente confirmou o que havia dito em depoimento à Polícia Federal, Gedimar mudou de posição. Em sua defesa apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gedimar inocentou Freud e afirmou que foi induzido pelo delegado Edmilson Bruno, que o prendeu no hotel e ouviu seu depoimento, a dizer o nome do assessor da Presidência.

"Sob a promessa de não ser detido, o representado declinou o nome de um membro do governo de que se lembrava por o ter acompanhado em um trabalho anterior de segurança no comitê eleitoral, mas que, de fato, não possuía, em seu conhecimento, qualquer envolvimento com a situação", afirmou Gedimar.

Ex-assessor de Lula tem sigilo quebrado

O juiz da 2ª Vara Federal no Mato Grosso, Jefferson Schneider, autorizou ontem a quebra do sigilo bancário de Freud Godoy, ex-assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e de Hamilton Lacerda, ex-coordenador de comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo.

Schneider, porém, indeferiu pedido do Ministério Público Federal para quebra do sigilo da mulher de Freud, Simone, e das empresas Caso Comércio e Serviço e a Caso Sistema de Segurança, que estão em nome de Simone.

O pedido da quebra do sigilo bancário de ambos foi motivado pelo fato de o ex-assessor do presidente Lula ter recebido, nas contas das empresas, R$121,3 mil da SMPB Comunicação Ltda, do publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão, e da Duda Mendonça e Associados Ltda., do publicitário Duda Mendonça.

Os representantes do Ministério Público Federal e da Polícia Federal envolvidos na investigação duvidam, no entanto, que Godoy e Lacerda tenham movimentado em suas contas dinheiro destinado à compra do dossiê contra os tucanos.

A CPI dos Sanguessugas também investiga um depósito de R$396 mil feito na conta de Freud Godoy. O dinheiro teria vindo do megainvestidor Naji Nahas, por meio da corretora do Banco Alpha, em 5 de setembro, dez dias antes da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha em um hotel em São Paulo com R$1,75 milhão que seria usado para comprar um dossiê contra políticos tucanos.

Ontem, o genro de Darci Vedoin, Ivo Spínola, prestou depoimento ao juiz Jefferson Schneider. Ele confirmou que fez cópias de um CD com imagens do ex-ministro da Saúde José Serra entregando ambulâncias. O material fazia parte do dossiê que petistas queriam comprar. Spínola disse não saber de onde veio o R$1,7 milhão que seria utilizado para o pagamento do dossiê.

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